quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Meu (novo) jardim

Caros amigos e leitores assíduos desde sempre pequeno grande refúgio... Comunico um recesso à forceps, por motivo nobre e muito esperado. Vivo, nos próximos dias, a realização de um grande sonho e até que seja feita a transferência das vias tecnológicas, estarei fora do ar...

Um sonho que se sonha só também pode se tornar realidade e eu sou a prova viva disso! E não há nada nesse mundo que me impedirá de extrair desse momento tudo que mereço

Despeço-me, não sei por quanto tempo, dessas noites em longas teias de palavras e sentimentos. Hoje, parto deixando os senhores com Vander Lee, este que, visceralmente, sabe cantar sua alma. Ele dirá por mim, o que de fato, farei nos próximos dias.
No ensejo, agradeço os comentários, elogios, críticas e acréscimos ao blog. Leiam a sessão "legados", para abrandar essa ausência.

Meu jardim
(Composição: Vander Lee)

Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho

Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

everybody hurts - REM

Friends, I'm trying to understand how and why people act sometimes of a thoughtless and selfish way... I came to this song... forgive my bad english.



"When your day is long
And the night - the night is yours alone
When you're sure you've had enough of this life
Hang on

Don't let yourself go
'cause everybody cries
and everybody hurts, sometimes

Sometimes everything is wrong
Now it's time to sing along
When your day is night alone (hold on, hold on)
If you feel like letting go (hold on)
If you think you've had too much of this life
To hang on

'Cause everybody hurts
Take comfort in your friends
Everybody hurts
Don't throw your hand, oh no
Don't throw your hand
If you feel like you're alone
no, no, no, you're not alone

If you're on your own in this life
The days and nights are long
When you think you've had too much of this life, to hang on

Well, everybody hurts
sometimes, everybody cries
And everybody hurts, sometimes
But everybody hurts, sometimes
So hold on, hold on, hold on, hold on, hold on,
hold on, hold on, hold on

Everybody hurts
You're not alone"


So, I tell to myself "o hold on, hold on, hold on"

Who wishes to listen to, click on it: http://br.youtube.com/watch?v=ioAQTwc8Oas

http://www.orkut.com/FavoriteVideoView.aspx?uid=11093300403486360551&ad=1197547254


aff


segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Todo o resto...


"Existe o certo, o errado e todo o resto.” Esta é uma frase dita pelo ator Daniel Oliveira representando Cazuza, em uma conversa com o pai, numa cena que. A meu ver, resume o espírito do filme que este em cartaz ate pouco tempo. Aliás, resume a vida.
Certo e errado são convenções que se confirmam com meia dúzia de atitudes. Certo é ser gentil, respeitar os mais velhos, seguir uma dieta balanceada, dormir oito horas por dia, lembrar dos aniversários, trabalhar, estudar, casar e ter filhos, certo é morrer bem velho e com o dever cumprido. Errado é dar calote, repetir de ano, beber demais, fumar, se drogar, não programar um futuro decente, dar saltos sem rede. Todo mundo de acordo?
Todo mundo teoricamente de acordo, porém a vida não é feita de teorias. E o resto? E tudo aquilo que a gente mal consegue verbalizar, de tão intenso? Desejos, impulsos, fantasias, emoções. Ora, meia dúzia de normas preestabelecidas não dão conta do recado. Impossível enquadrar o que lateja, o que arde, o que grita dentro de nós.
Somos maduros e ao mesmo tempo infantis, por trás do nosso autocontrole há um desespero infernal. Possuímos uma criatividade insuspeita: inventamos músicas, amores e problemas, e somos curiosos, queremos espiar pelo buraco da fechadura do mundo para descobrir o que não nos contaram. Todo o resto.
O amor é certo, o ódio é errado, e resto é uma montanha de outros sentimentos, uma solidão gigantesca, muita confusão, desassossego, saudades cortantes, necessidade de afeto e urgências sexuais que não se adaptam às regras do bom comportamento. Há bilhetes guardados no fundo das gavetas que contariam outra versão da nossa história, caso viessem a público.
Todo o resto é o que nos assombra: as escolhas não feitas, os beijos não dados, as decisões não tomadas, os mandamentos que não obedecemos ou que obedecemos bem demais – a troco de que fomos tão bonzinhos?
Há o certo, o errado e aquilo que nos dá medo, que nos atrai que nos sufoca que nos entorpece.

O certo é ser magro, bonito, rico e educado, o errado é ser gordo, feio, pobre e analfabeto, e o resto nada tem a ver com esses reducionismos: é nossa fome por idéias novas, é nosso rosto que se transforma com o tempo, são nossas cicatrizes de estimação, nossos erros e desilusões.
Todo o resto é muito mais vasto. É nossa porra-louquice, nossa ausência de certezas, nossos silêncios inquisidores, a pureza e a inocência que se mantêm vivas dentro de nós, mas que ninguém percebe, só porque crescemos. A maturidade é um álibi frágil. Seguimos com uma alma de criança que finge saber direitinho tudo o que deve ser feito, mas que no fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo. Todo o resto é tudo que ninguém aplaude e ninguém vaia, porque ninguém vê.

MARTHA MEDEIROS

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sua estupidez nao lhe deixa ver....

Meus amigos de quando em vez falam dos meus flagelos: ter certa inteligencia, dicernimento e criticidade, ao cabo, deixa-me à margem de coisas simples e práticas. (leia-se: felizes)
O quê, no fundo, querem eles dizer com isso? Que o mundo é dos estúpidos? ou melhor, das estúpidas?

Por certo morrerei sem conseguir entender o fascínio que as pessoas, sobretudo os homens, têm pelo simplório e diminuto. Antropológico? talvez - respondo- já que, assim, deixam aflorar o primitivismo de outrora. Não quero aqui dizer (embora já o tenha feito), que os homens não sabem lidar com mulheres que "valham a pena" (aspas para garantir a relatividade da expressão), mas é que as coincidências são cada vez mais frequentes (reticências).

Caso meus amigos tenham razão, devo ter uma triste sentença, pois nunca consegui (talvez nao tenha tentado) ser personagem do Folhetim, de Gal Gosta na patética subserviência "Se acaso me quiseres/ sou dessas mulheres que só dizem sim./Por uma noite à toa, uma noitada boa/ um cinema, um botequim.."
Bem, deve ser pq sou feita de "Nãos". E também de "Sins", mas só dos que me convêm. Eu sou noites produtivas e divertidas, pois não me relaciono bem com certas locuções adverbiais. Sou cinema, mas só em boa companhia, com preferência pelas que saibam comentar a essência do assistido e que, assim como eu, nao queira abrir os enlatados americanos surreais e desnecessários. Sou ainda a boa musica, condição sine qua non da minha permanência no botequim.

Complicada? Talvez seja mesmo, mas onde está escrito que devemos estar no patamar compreensível aos olhos dos outros? Quem sancionou a idéia de que refletir, criticar e questionar são sinônimos de ceticismo, mau-humor, frieza e frigidez? Bah! O que percebo, isso sim, é a eterna eleição de motivos para a perpetuação da mediocridade, a tentativa de convencer a si mesmo que a vida é mais leve diante da estupidez e do trivial. Nesse caso desejo a dureza e o peso das coisas. Ponto!
Machado de Assis (viva o centenário!) disse em um dos seus (irônicos) livros que só existem 3 tipos de pessoas: os espertos (e avisados), os tolos (e desavisados) e os acham que estão no primeiro grupo. Talvez eu faça parte deste último, mas prefiro não afirmar para não promover a falsa modéstia.

Lembrei agora de esotérico
"Até que nem tanto esotérico assim. Se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais..."

Mas, segundo o escritor e músico Tony Bellotto, eu sou uma "mulher normal." (dessa vez as aspas é só um grifo mesmo)
(sim, o marido da Malu Mader e que ninguém me venha questionar a eficiênca de seus textos, não tenho opinião formada sobre isso, ora, ora. E, sim, eu tb posso fazer citações idiotas, pelo menos mostro os créditos)

"Você é uma mulher normal. Está indignada com a liberação concedida pelo STF aos candidatos com fichas sujas, mas está ainda mais irritada com o preço que estão cobrando pelo iogurte light. Está empenhadíssima em comparecer à reunião na casa daquela amiga que convidou uma candidata à vereadora para falar sobre suas propostas de campanha, mas está ainda mais preocupada com o horário de fechamento do salão de beleza em que marcou uma escova progressiva às 18:30hs.

Você é uma mulher normal, e por isso não vai perder por nada a palestra daquele historiador sul-africano que você admira desde os tempos de faculdade, mas está tensa com a possibilidade de se atrasar para o jantar, pois prometeu ao seu namorado que vai preparar o frango ao curry que ele tanto ama. E ainda tem que comprar o vinho no caminho. E checar na internet se a quantidade de curry é a mesma que você tem em mente.

Você é uma mulher normal, e isso te ajuda a entender porque parou naquela loja de roupas para bebês na volta do trabalho. E porque, apesar de você não ter um filho – você sequer é casada -, a parada na loja de roupas para bebês fez com que você perdesse a palestra do historiador sul-africano que você admira desde os tempos de faculdade e atrasasse a preparação do frango ao curry que seu namorado tanto ama.

E que, apesar de tudo isso, você ficou profundamente tocada quando pegou uma daquelas roupinhas – a menor delas, parecia a roupa de uma boneca – e parou em frente ao espelho e viu dentro daquela roupa vazia o seu bebê. Que nem existe ainda, e sequer está nos planos do seu namorado, que após comer o frango ao curry, que ele tanto ama vai querer fazer sexo com você e com certeza vai perguntar, logo depois que vocês transarem: "Tomou a pílula, amorzinho?".."




terça-feira, 29 de julho de 2008

O contrário do amor

O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.
O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.
Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.
Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.
Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.


Martha Medeiros

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Do Livro do Desassossego


"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto."
(...)

"De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, e a compreensão profunda de estar sentindo...Uma inteligência aguda para me destruir, e um poder de sonho sôfrego de me entreter...Uma vontade morta e uma reflexão que a embala, como a um filho vivo..."

"É de compreender que sobretudo nos cansamos. Viver é não pensar."

"A Ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. "

Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
(disponível para download em PDF)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

medos


Todos os meus medos
Moram numa grande caixa
Que eu escondo embaixo da cama.
De lá eles gritam meu nome
E eu da cama finjo não ouvir,
Tento dormir.

Numa linda caixa com belas fitas,
Guardo as mágoas e dores,
Vez por outra as olho
Pra relembrar que fui menos feliz.

Os amores, guardo em pequenas garrafas.
Quando a solidão me abraça,
As abro e sinto o inebriante cheiro da paixão.

Os meus sonhos.
Esses eu não guardo.
Esses repousam no meu travesseiro quando durmo,
Mas me seguem pelas ruas,
Pelos ares, bares e calçadas dos caminhos.
Esses é que me guardam.
...
Delírios de Diogo Monteiro

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Fizeram a gente acreditar...


Esta é a semana dos namorados, mas não vou falar sobre ursinhos de pelúcia nem sobre bombons. É o momento ideal pra falar de sacanagem.

Se dei a impressão de que o assunto será ménages à trois, sexo selvagem e práticas perversas, sinto muito desiludí-lo. Pretendo, sim, é falar das sacanagens que fizeram com a gente.

Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é racionado nem chega com hora marcada.

Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais rápido.

Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um", duas pessoas pensando igual, agindo igual, que isso era que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.

Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Ninguém nos disse que chinelos velhos também têm seu valor, já que não nos machucam, e que existe mais cabeças tortas do que pés.

Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que poderíamos tentar outras alternativas menos convencionais.

Sexo não é sacanagem. Sexo é uma coisa natural, simples - só é ruim quando feito sem vontade. Sacanagem é outra coisa. É nos condicionarem a um amor cheio de regras e princípios, sem ter o direito à leveza e ao prazer que nos proporcionam as coisas escolhidas por nós mesmos.

(Martha Medeiros)

Te olho nos olhos...

Te olho nos olhos e você reclama
Que te olho muito profundamente.

Desculpa,
Tudo que vivi foi profundamente...
Eu te ensinei quem sou...
E você foi me tirando...
Os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.

Eu que sempre fui livre,
Não importava o que os outros dissessem.

Até onde posso ir para te resgatar?

Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade...
De me inventar de novo.

Desculpa...se te olho profundamente,
Rente à pele...
A ponto de ver seus ancestrais...
Nos seus traços.

A ponto de ver a estrada...
Muito antes dos seus passos.

Eu não vou separar as minhas vitórias
Dos meus fracassos!

Eu não vou renunciar a mim;

Nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser
Vibrante, errante, sujo, livre, quente.

Eu quero estar viva e permanecer
Te olhando profundamente."

sábado, 28 de junho de 2008

Pedra

"Corri coma palavra na mão pra te jogar.

Corri para quebrar tua cabeça com a palavra

Cheguei até a porta da tua alma,

e a passagem interrompida.

Deste ordem a tua alma pra ficar trancada,

ordenaste teu pensamento pra não mais pensar.

e ao amor deste ordem para odiar.

Continuei correndo com a palavra na mão

pra te acertar.

Continuei sofrendo com a palavra na mão

pra te jogar.

Fui até a porta da minha ilusão

pra te encontrar.

percorri minhas salas do sonho somente pra te ver,

com outra palavra na mão pra te tecer.

Continuei correndo com a palavra na mão

pra te acertar, continuei ocorrendo, correndo,

com a palavra na mão até cansar.

Voltei à sala do sonho, abri todas as portas

da ilusão, vi escorada a porta da paixão, sempre

trancado o portão do amor.

Voltei a correr, a correr e, súbita imagem:

eu vi de longe a tua imagem súbita.

Corri, corri, corri pra te olhar,

e, quando te olhei, então não mais te vi.

Levantei o braço pra jogar palavra,

e não havia mais palavra em minha mão.

Continuei com a palavra na mão

pra te acertar, continuei correndo com a palavra

na mão pra te jogar, continuei correndo, correndo,

com a palavra na mão até cansar...

Levanto o braço pra jogar palavra,

e não há mais palavra em minha mão.

Talvez encontre alguma pra te inventar."

(Almeida, Sonia. In: Penumbra)

terça-feira, 24 de junho de 2008

Sobre a coisa

existe essa Coisa
dentro de mim, eu acho
se não dentro de mim, em mim
mas minha, essa Coisa.

pois então, como Coisa, e não como nome, me assombra o sono e nega a idéia de que vale a pena.
(mistérios precisam aceitar a ausência de respostas, e a Coisa não assenta nesse papel)

muitos rostos foram delegados, um punhado de explicações, vc e vc, mas nada aderiu à superfície d'Ela, escorrendo, sempre, para essas calhas que me coletam, negras.
insidiosa, a Coisa seria parda, se eminência, tanto que agora não sei mais onde Ela começa e onde termino de me entender.

mas um dia,
desnuda a Coisa e aveludada Suas quinas,
encontro o nome disso tudo que me escapa,
me cego de vez com a verdade,
me retiro das paredes, muradas e ameias,
a vigilância abandonada,
para poder, enfim, nada ver.


Delírios de Vida continuada

terça-feira, 17 de junho de 2008

Turma do conquer-blog


Galera...
Eu tb não sei o que houve por aqui... No fórum todo mundo perdido... Alguma m...
Aqui não abre nada, parou, travou, sei lá.. O fórum bichou geral...
Ofereço meu blog existencial pra ver os itens.. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk (isso se o blogger não parar tb)

Hugo, Mila, Nack, sou Trojan pô...a DB no meu server ta 35 . Quanto ta custando um ring elite no aquarius??
ring elite +2, vale a pena...????
Budla, te dou os itens se me deres um warrior (já que sou preguiçosa pra criar um) de preferência lvl 90... hahahahahaha.
O Seifert tem um lvl 25 e quer humilhar...

Se o fórum voltar avise-me, sinal de fumaça já que o mundo-server virtual entrou todo em colapso... (tomara que esse faça meu apelo chegar)
Heeeeeeeeeeeelp!!!

Escreve-me!

Escreve-me ...

Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor!Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!

"Amo-te!"Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...

(Florbela Espanca)

Agora sei e afins..

Um dia como o de hoje... onde tantos sentimentos ressurgiram e apesar disso, não consigo escrever nada. Sinto-me bloqueada para o que melhor sei fazer: falar de mim e do que sinto..
Entao ouço canções. Canções que falam de mim, falam por mim. Pensei criar um playlist completo, talvez juntar os versos e quem sabe, assim, recriar algo coerente sobre a confusão de sentimentos que pro aqui deixa rastros. Lágrimas! A criação não faz parte de mim, ao menos nao hoje.

Horas e horas perdidas. Dane-se o trabalho acumulado, os compromissos...

Nietzsche tinha razão, " a vida sem música seria um erro...". Mas agora quem erra sou eu, mas na escolha das palavras, erro despudoradamente... Entrando em delírios só me resta a música.

(Re) Descobri uma música do Kid Abelha, datada de 1989, contemporânea, apesar do tempo, que discorre sobre descobertas. Chama-se "Agora sei", cuja letra fala, entre outras coisas, sobre as necessidades que surgem qdo a vida adulta nos chama, ou quando o amor nos deixa. Entre versos difíceis encontro-me com " é preciso jogar os sonhos fora e preparar o próprio funeral". E, assim, abrindo mão da própria ingenuidade ou do que ainda resta dela, ensina a canção que é preciso esquecer coisas que já não cabem mais. "Acabou a puberdade, essa é a nossa casa e não a dos nossos pais.. vamos deixar pra tras toda forma de dor.."

Diz tb que, alguma hora, é preciso trancar as portas, nem que seja por sobrevivência.

"Agora sei que é bom
Que se perca a ingenuidade
Ainda que a gente queira
Acreditar em ilusão".

Quanto ao amor... bom, para este a música não traz novidades... Paula Toller empresta sua magnífica voz para uma metáfora pueril que retoma as velhas verdades...

"Agora sei que o amor
É um sabonete dentro d'água
Quanto mais a gente agarra
Mais ele cai da nossa mão

É preciso jogar os sonhos fora
E preparar o próprio funeral
Qualquer dos dois que vá embora
Pros dois o luto é igual"

Bom.. mas não foi isso que senti, hoje. Senti, visceralmente, outra vez (isso sim!), um luto solitário. A verdade dói, mas liberta.
(Deja vu)

- Aos que, como eu, não se conformam só com a letra, oportunizo o prazer de ouvi-la em: http://pollimnia.multiply.com/music/item/7


De consolo em consolo eu me fechava para o que não entendia. Nunca soube bem se a fase era você, ou se era um tempo entre a eternidade de nós dois. Havíamos jurado, com pacto de sangue e acordo de cuspe, que seria eterno. Escrevíamos em parede, afirmávamos em cartas o nosso, só nosso, momento. Mas todas as promessas hoje me soam apenas como um acordo mútuo que ambos éramos o mais felizes que jamais havíamos sido, e que esse era o nosso desejo.

Fico pensando onde o distanciamento começou. Se foi coisa do destino mesmo, vontade divina, inevitável, ou se foi culpa minha, sua, ou nossa. É mais fácil colocar a culpa no inevitável, mas foi a nossa arrogância que nos matou. Em dado momento, eu pensei que sabia muito de você, e você de mim. Manias, gestos, palavras não ditas. Pensamos que sabíamos tanto a ponto de nos cansar e querer conhecer coisas novas. Conhecíamos muito um ao outro, estávamos jurados, entediados, seguros demais. Cada um começou a procurar outros mundos, pessoas diferentes e as idéias foram se divergindo. Quando nos olhamos novamente, era tarde demais, havíamos nos tornado dois estranhos que contemplam o silêncio constrangedor na mesa do bar, entre um gole ou outro das próprias bebidas (que também mudaram). Se havia tanta coisa diferente para contar, por que o silêncio? Nos perdemos por culpa de nós mesmos. Nunca nos conhecemos por completo, mas a partir do momento que achamos que sim, nos afogamos nas próprias certezas e desprezamos o que descobrimos. Julgamos ser superiores. Afirmamos a própria inferioridade por subestimar o tempo, e ainda mais, um ao outro.

Assim como as fases da Lua, espero que nosso ciclo se renove, apesar de hoje morar dentro de mim apenas mágoas e gostar de você pelas mágoas. Foi só o que sobrou.

Acho que só guardo as mágoas por ainda me importar, um jeito de ainda falar, pensar e sentir.

"Mágoa é lamber frio o que o outro cozinhou quente demais para nós." .

Agora sei..

Acabou a puberdade
E com ela a necessidade
De pedir as chaves emprestadas
De deixar as portas trancadas
Eu já nem me lembro bem
Da primeira vez que eu dei
Eu já nem me lembro bem

Agora sei que o amor
É um sabonete dentro d'água
Quanto mais a gente agarra
Mais ele nos escapa

Agora sei que é bom
Que ele seja sempre novidade
Ainda que a gente saiba
Que é uma velha novidade

É preciso jogar os sonhos fora
E preparar o próprio funeral
Qualquer dos dois que vá embora
Pros dois o luto é igual

Agora sei que o amor
É um sabonete dentro d'água
Quanto mais a gente agarra
Mais ele cai da nossa mão

Agora sei que é bom
Que se perca a ingenuidade
Ainda que a gente queira
Acreditar em ilusão

É preciso jogar os sonhos fora
E preparar o próprio funeral
Qualquer dos dois que vá embora
Pros dois o luto é igual

Acabou a puberdade
Essa é a nossa casa
E não a dos nossos pais
Vamos deixar pra trás
Toda forma de dor
Vamos deixar pra trás

domingo, 15 de junho de 2008

Certezas


Talvez o que busque nas palavras são desculpas, talvez conjecturas. Essa ranhura violenta que me faz te afastar, é comigo, não com você. Não existe culpa, sua ou minha, não existe certo. De concreto, só a distância que agora faço questão de manter.

Toda vez que te vejo o que enxergo é a minha parte feia, minha metade que escondo do mundo, aquela que eu queria matar. O que sei, é que passou do ponto, passou do tempo e que não posso mais. Nem amigos, nem colega, nem "quero que você fique bem".

Descobri com o tempo, relendo velhos bilhetes, ouvindo as velhas músicas que nossa vida não dava um filme. Quando as letras finais subissem, só haveria frustração e, na platéia, só nós dois olhando tudo que não devíamos ter feito. Dessa página não tenho orgulho, tenho mágoa, tenho calma. Calma pra escrever esse adeus pra ti, que é também um adeus pra mim.

Nós iremos nos encontrar, iremos nos falar, mas seremos eternamente estranhos que se conhecem, amigos que não se olham nos olhos, seremos uma sombra do que não é. Eu peço que não haja lágrima, por que o que não foi é falso, mentira, imagem. O que não foi é só sonho tolo, jóia falsa. De real, só o adeus.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A dor que mais dói





Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Dóem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o escritório e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua pintando o cabelo de vermelho. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango assado, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua surfando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber se ele está com outra, e ao mesmo tempo querer. É não querer saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo querer. É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Martha Medeiros

domingo, 1 de junho de 2008

é assim...


"Gosto muito de te ver (...)

Gosto muito de você (...)

Para desentristecer (...)
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você (...)

Arrastando o meu olhar como um ímã
(...)
Gosto de te ver ao sol (...)
De te ver entrar no mar
(...)

De estar perto de você e entrar numa"

Eis como estou cantando O Leãozinho do Caetano, hoje. Comendo palavras e versos inteiros, deixando só o que me apetece. Ando fazendo isso com as coisas, cada vez mais freqüentemente. Eclipsando (será que existe essa palavra?) parte daquilo que não quero ver, ler, sentir, tocar. Os astros falam em contradição em todos os horóscopos que tenho lido.

Não ligo para o que dizem os astros. É, como diz o Chico, tanta saudade, é pra matar. Nada mais. Aquilo que vai tomando conta da gente sem alarde, mas com força.
Senti o cheiro desde cedo, ao acordar e prometi a mim mesmo trocar a fronha (mesmo limpa) do travesseiro, assim que chegar em casa. Eu sei. Você nunca deitou nessa cama atual, nem usou a tal fronha ou o travesseiro.

Mas o sonho deve ter passado dos olhos fechados pro tecido, impregnando ele de você. E não quero que você volte hoje novamente. Não quero que chegue devagar, enquanto durmo. Quase sinto sua mão acariciando “minha pele ao léu”.
Por isso não quero você nos meus sonhos, uma vez que acaba saindo da madrugada, ganhando o dia. Toma conta do meu pensamento e das minhas ações, escolhe até as músicas que vou ouvir como que por telepatia.

Deve ter esquecido, claro. Não lembra das tantas risadas e de alguma lágrima. Da rima, da língua, dos sorvetes de casquinha que adoçavam as tardes de sábado. Não lembra da última tentativa que fiz de reter você em mim, prometendo que mudaria. Sim, eu mudaria em seu nome.

A verdade é que nunca tivemos o tempo do adeus. Talvez por isso você volte nesses sonhos


Quando tudo entre nós terminou

Reli hoje essa frase. Mais de uma vez. Era assim que começava seu último e-mail, perdido numa gaveta de guardados.

Quando tudo entre nós terminou eu achei que seria mais fácil. Voltar a sorrir sem medo de contrariar sua melancolia. Voltar a praticar certa leveza que nosso relacionamento havia roubado de mim em troca de tantos momentos ternos, mas tensos em certa medida.

Quando tudo entre nós terminou, tive medo de amar de novo, por medo de sofrer. Foi aí que vi o quanto de insegurança rondava meu coração, quando perambulava entre duas cidades, duas vidas, destinos tão pouco amparados.

Desde então vivo fugindo das declarações fofas de amor-eterno e das afinidades eletivas. Passei a dar preferência aos prazeres fugazes, ao riso farto provocado pelo vinho (e recentemente pelo gim com gelo). Mesmo sem lembrar direito do rosto que me beijou na noite anterior. É que me sinto protegido, sabe?

Sinto que não vou precisar chorar ao ler ou ouvir: “- quando tudo entre nós terminou”. Pra você deve ter sido bem mais fácil (embora sempre vá defender o contrário). Você sempre gostou das letras de samba com drama escorrendo das veias.

Eu continuo sendo assombrada pelos fantasmas de nós dois. Como diria Caetano, multiplicando os pés por muitos, mil... sambando como no retrato, que a luz de uma história incompleta imprimiu em nós.

Delírios escritos por coração selvagem

sábado, 31 de maio de 2008

NÓS (HOMENS)


A medida que envelheço e convivo com outras, valorizo mais ainda as mulheres que estão acima dos 30.
Elas não se importam com o que você pensa, mas se dispõem de coração se você tiver a intenção de conversar. Se ela não quer assistir ao jogo de futebol na tv, não fica à sua volta resmungando, vai fazer alguma coisa que queira fazer...
E geralmente é alguma coisa bem mais interessante.

Ela se conhece o suficiente para saber quem é, o que quer e quem quer. Elas não ficam com quem não confiam. Mulheres se tornam psicanalistas quando envelhecem.
Você nunca precisa confessar seus pecados... Elas sempre sabem...
Ficam lindas quando usam batom vermelho. O mesmo não acontece com mulheres mais jovens...

Mulheres mais velhas são diretas e honestas. Elas te dirão na cara se você for um idiota, caso esteja agindo como um!
Você nunca precisa se preocupar onde se encaixa na vida dela. Basta agir como homem e o resto deixe que ela faça...

Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 anos! Infelizmente isto não é recíproco, pois para cada mulher com mais de 30 anos, estonteante, bonita, bem apanhada e sexy, existe um careca, pançudo em bermudões amarelos bancando o
bobo para uma garota de 19 anos...
Senhoras, eu peço desculpas.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Au revoir, Deminho...

(Ao meu canalha-amigo que se despediu desse mundo para assumir seu lugar ao lado dos excêntricos. Um homem de muitos sentimentos que me deu o (des)prazer de conhecer muitos deles.)

Essas despedidas não poderiam ter outro autor... Ninguém conseguiria sair tão subita e discretamente. Não te perdôo.
Fica a saudade, mas tb fica a decepção, fica a vontade e vai à interrogação, fica o tempo em que não éramos nada mais que contatos adicionados, o tempo em que fomos por muito tempo coadjuvantes na solidão do outro.
Custava ter ligado? Estavas magoado? Sem se despedir?

Falo tudo isso para as paredes do meu apartamento, refletida ao meio, olhando para o meu García Marquez, alfarrabio da década de 60, tua dedicatória...
As nossas apostas em "Cem anos de solidão"
Custava um e-mail? Estavas magoado? Sem se despedir?

Falo tudo isso em frente à tela fria e salgada, lamentando o adeus que não foi dado. Falo tudo isso porque sei que vc vai ler, vai entender, vai ironizar, vai crer em todos os verbos funcionais do diconário, mas o verbo que tu encaixas nem é verbo, é substantivo: saudade.
Demo, meu astro canalha, nem uma visita? estavas magoado? sem se despedir?

A conversa inteligente, nossos livros, nossos discos, o teu Mercado Negro... As nossas rabugices, nossas críticas, nossas implicâncias, nossa impaciência com os estúpidos, nossas risadas, nossas codigos, nossos olhares cúmplices diante da tolice do mundo...

Os sovenirs, o colírio, a incompetência digital, os sanduiches vagabundos, o café no banheiro, o eterno perfume, a Janis Joplin, a sua mosca, a minha covinha. As poesias, a literatura, a história, as guerras, os judeus, Luis Fernando Veríssimo, Egberto Gismonti. Tuas reclamações rabugentas diante do meu comportamento desastrado, minha irritação diante do teu ar de superioridade, teus espasmos de homem solitário, minha incompreensão... nossas brigas, nossas mágoas, nossos sorrisos, nossas distâncias, nossa solidariedade, nossa amizade!

Eu devia saber que nunca ias avisar. E claro que não estavas magoado, pois tivemos tempo de dizer um ao outro o quanto éramos essenciais, o quanto era bom segurarmos um na mão do outro, mesmo que soltássemos em seguida.
E não se despediu pq foi esta a forma que encontrou de permancer.

"Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)"

"Até a próxima vez"

domingo, 18 de maio de 2008

I don't belong to you anymore

"Batidas na porta da frente.. é o tempo!"

Interessa-me abordar o tempo e seu poder devastador, encanta-me seu poder de levar consigo tudo o quanto precisamos que leve. Impressiono-me com sua capacidade de promover nosso resgate. É desejo do tempo que reencontremos nossa essência, a ponto de não nos permitir nostalgias já abandonadas; faz-nos zombar de nós mesmos, do que ousamos fazer.
É mérito dele - o tempo - o não sentimento, a não mais permissão, a não necessidade e, sendo assim, não sinto, não permito e não necessito. Um reencontro com meu passado sempre recorrente depois de seis meses de desencontros: velhas conversas, velhos signos, velhas questões que levanto sem poder colher a resposta imediatamente mas, numa pequena epifania, algumas certezas já aparecem, como minha reconciliação com este mundo e suas possibilidades.

Percebo tal resgate por já não sentir falta de como nunca encontravas algo pra ver na TV nem para ver em mim; não me aborrece o fato de nunca me escutares devido a atenção redobrada por qualquer outra bobagem e, no surto, passares a mãos pelos meus cabelos, como se desculpando da tremenda falta de tato.

Não me recordo da infinitas maneiras e encontravas para me tirar do sério, nem de como tua cabeça nunca encaixava nos meus ombros, dos planos para o futuro que nunca iam de encontro aos meus, de nossas prioridades absolutamente dissonantes, do mal-humor matinal, tampouco do fato de nunca teres dado bola as minhas dúvidas durante as madrugadas.

Não faço mais referência ao tempo que odiavas me ver discorrer sobre a importancia elementar das coisas as quais não conheces; da total ausencia de ligações para almoçar e de não conheceres o cheiro que exala em meus cabelos, das coisas banais que desconhecias de mim e de todo o resto.

Isso é real e tem nome: chama-se libertação..

"I don't belong to you anymore"

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Sossega, coração! Não desesperes!

de

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transform

domingo, 11 de maio de 2008

Domingo no Leo

Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?"
(Mário Quintana)

Era tarde de domingo, todos em volta de uma máquina de costura que se assemelha a uma mesa louvando a Baco. Boas companhias, cada uma com seu signficado pessoal: umas recentes, outras saudosas e outras cúmplices.Tarde até agradável, na média.

Já era final, só restavam brasas e as cinzas. Nem parecia que ali havia uma fogueira, dois metros de altura, tanto calor que mal se podia chegar perto. Mas já se ia a tarde e sobrara um calor convidativo, tão convidativo que sentamos cada um com seu copo, cada qual com suas lembranças. Começou com Cartola, aquela que Cazuza também cantou: ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida... Depois emendou o velho Vinícius, cantando os amores tristes e errados, as paixões redentoras e pungentes.

... e não sei se foi o dia das mães, o bom vinho que já ia subindo, a metáfora das brasas, meu estado de culpa crônica, a bossa nova, chico cantando "samba pra um grande amor", essa nostalgia pelo final iminente. E naquela tarde, todo esse estado não era pela minha insistência crônica pelos amores difíceis e inconclusos. Era por aquele momento fotográfico do "talvez seja a última vez que", ou talvez "apesar dos pesares, estamos aqui".

A metáfora da tarde pensei, era o fato de que estávamos todos ali, como de certa forma um dia fomos. Envoltos por aquelas antigüidades lúgubres e quase sem beleza - mas era só daquilo que precisávamos no momento. As músicas nos bastavam, mantiam-nos unidos. Comecei a relembrar as mesmas músicas em outros lugares, outras paragens, de como nem gostava de Bezerra da Silva num período tão remoto assim. De como todos ali participaram na minha formação como indivíduo adulto, apesar do passo principal desse processo fosse um rompimento e todas as mágoas recorrentes.

Quando se está no Léo o mais importante é cantar, é cantar juntos e cantar abraçados.
E que perdoar é uma das maiores dávidas que há no mundo.
E perdoei.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Acabou a tempestade...

Não, hoje não vim para escrever sobre dores, frio, insônia, nervosismo, lamentos ou fazer balanço do não-saber-quem-sou.
Como de costume, ponho músicas aleatórias todas as noites... me ajudam a pensar. E num repeat sem fim crio imagens que acompanham o fim dessa tempestade. É.. está estiando, o clico fechando, outro começando. Eu sei!
(...) e no player....

"Eu não quero mais correr
Vou cuidar do meu jardim
Trago flores pra você
Deixo o tempo lhe mostrar
Nossa historia é mesmo assim"

Parei de querer interferir, de artificializar a mudança...Tão dangerizada estava no roda-mundo que esqueci de perceber os progressos... Optei por remoer o não-dito. Que tola!
"Pára, meu coração, não penses!"
repeat

Atirei uma pedra na sua janela, uma que não fez o menor ruído, não quebrou, não rachou, não deu em nada....

As coisas sempre competem com nossas escolhas, as músicas, os livros, as pessoas...
e no player...

" E se virá
Será quando menos se esperar
Da onde ninguém imagina
para todo mal, há cura."

(...)
Hoje li um texto que dizia que aos 5 anos de idade o mundo é esmagadoramente mais forte do que a gente; aos 30 também, mas nesse caso "aprendemos umas manhas que, se não anulam a desproporção, ao menos disfarçam nossa pequenez". O conhecimento é, pois, uma benção e uma condenação: compreendermos a origem de nossos incômodos é sempre um exalar de possibilidades, inclusive negativas. E no player...

"É a verdade o que assombra
O descaso que condena,
A estupidez o que destrói"
...
Puxa.. se me lembrasse o autor, mas creio que ocupei a mente com o que importava do texto:

"Palavras são ferramentas que usamos para desmontar o mundo e remontá-lo dentro da nossa cabeça."

Do resto nao sei dizer.. no player agora "Metal contra as nuvens..." o mundo conspira também a favor. repeat, repeat...

"Eu vejo tudo que se foi

E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes,
O corpo quer, a alma entende."

Parece que o mar não está mais vazio... Desisto! essa música, essa letra, esse arranjo...
no player...

"Tudo passa, tudo passará...

E nossa estória não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar.

(Certa vez... numa alegria meio "Thelma e Louise" dentro do carro, minha amiga e eu nos olhávamos e entoávamos juntas, sorrindo e tentando arrancar uma da outra as certezas dessa letra...)


E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos."


A tempestade acabou e junto com ela um emaranhado de palavras confusas acima.... Não me importo, não se importe também... Ouça, apenas...

Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos."


terça-feira, 6 de maio de 2008

Pequenas Epifanias

Por andar tão distraída (novidade!), sem culpa e sem compromissos que não minha saúde (em vias de recuperação diga-se de passagem), expectativas basais e porque não dizer com péssimas intenções... não consegui externar nada por hoje. Pelo menos nada de realmente meu. Resolvi, então, chamar o jornalista-contista Caio Fernando de Abreu, rememorado(??) na minissérie "Queridos amigos" (que aliás não tive estrutura para acompanhar diariamente devido aos seus diálogos um tanto verdadeiros demais).
Ele, que tinha certeza que amar emburrece, encarava o tema como poucos, usando boa dose de realismo para descrever tais manifestações divinas. Ou melhor: pequenas epifanias, título de sua coletânea de crônicas, lançado em 1996, ano de seu falecimento. Também é o nome do texto abaixo, publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo, em 22 de abril de 1986:

(..)

Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus - enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal - não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me recoheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obssessivo do conto de Clarice Lispector - Tentação - na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível.”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa, ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou - descuidado, também - em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia a dia.

Era isso - aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando pra trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo.

Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.




segunda-feira, 28 de abril de 2008

Abril

Sigo nestes dias cinzentos com uma leve felicidade taquicárdica de sentir o ar gelado doendo as narinas, trincando os dedos. Faço diariamente o mesmo caminho, duas quadras até o ponto de ônibus, numa atenção distraída pelas pequenas coisas, as pequenas coincidências, as milhares de referências que venho acumulando nestes 29 anos de vida.

A verdade é que essa é a única alegria que tenho tido nestas últimas semanas. Tenho trabalhado tanto, tanto - quase 15 horas por dia- iluminada pelos olhinhos dos meus alunos, que brilham ávidos por ouvir o que nós professores temos a dizer. Nunca senti minhas mãos tão inábeis ao lidar com tantas vidas muitas vezes maiores que a minha. Tento me fazer de forte e simular uma segurança além do que já tenho ao ouvi-los discorrer sobre seus cotidiano. Tão perdidos, às vezes, desorientados, carentes. E como precisam de nós!!
Mas o fato é que tenho gostado até mais do que eu esperaria desta rotina opressora, quase workaholic: a ponto de sempre levantar no outro dia sempre com um sorriso vago e fôlego renovado para outro dia difícil.

Estou tão imersa nesta rotina que, quando à noite apóio a cabeça na vidraça do ônibus de volta, não penso em nada além de vagos tecnicismos docentes, as obrigações do dia seguinte.

Agora me veio à lembrança do trecho (o autor se perdeu no cansaço)
"Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você" e gostaria que isto estivesse acontecendo. Não acontece. Não sinto saudades, não sinto faltas, não faço planos, não telefono ou destilo esperanças. Para quem sempre foi movido de paixões em paixões, acho que nunca tive um mês tão árido quanto este abril que principia em terminar.

Depois de perceber como a vida é frágil e toda essa nossa impotência frente aos desequilíbrios, acho que nunca mais serei a mesma.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Tudo novo de novo....



De repente (e ironicamente) convidada a dois eventos nostálgicos, desses de revirar o baú, que encontramos não apenas boas lembranças, mas resquícios bolorentos de coisas que devemos esquecer.
A primeira, uma reunião acadêmia (pós?), cujo objetivo inicial é comemorar... quantos anos mesmo?? tsc tsc tsc
A segunda, um encontro (nada academico, diga-se de passagem) de amigos (amigos???), com objetivo único (e primordial) de preencher seus vazios e instisfações, conversas ao léu, promessas, recordações, sucessivas tentativas de repetir os mesmos gestos outrora apreciados, ai, ai, ai...
Reuniões IN MOFO, foi como as denominei... (Oremos!)
(...)


Sabe, custo a entender esse sentimento nostálgico que envolve as pessoas... Essa necessidade de (re) viver o que já passou.
É bem verdade que sinto saudades de pessoas, de acontecimentos... mas basta. Não os quero de volta! Também é sincera a vontade de rever amigos, mas quero-os no presente para falar de quem somos e não do que fomos. Lembrar e não viver o que éramos. Quem não quiser vir comigo para futuro que fique por lá...

Eu não... Prefiro o hoje, ser uma criança em processo de autodescoberta, eleando-me de coisas que desconheço.

Quero, sim, revigorar, oportunizar o presente, esperar o futuro... Voltar atrás seria perder chances...
É o mal-do-século! Esse escapismo adolescente, essa rejeição pelo presente e esse pavor do porvir, trazer o passado à forceps. Ultraje!
Rogo para que meus pretéritos repousem no sono dos justos e que fiquem por lá, em algum lugar, onde eu possa lançar mão somente para ter certeza do prazer de viver no presente.

Voltar? Não, não quero... Uma vez que nada pode ser como antes, mantenho intocado o meu passado para que continue exercendo seu melhor papel: perpertuar as melhores lembranças...
Quanto às ruins... Subjugo-me às lições e enterro-as!


domingo, 20 de abril de 2008

Trocando em miúdos

"Hoje me desfiz dos meus bens: vendi o sofá cujo tecido desenhei e a mesa de jantar onde fizemos planos.
O quadro que fica atrás do bar rifei junto com algumas quinquilharias da época em que nos juntamos. A tevê e o aparelho de som foram adquiridos pela vizinha, testemunha do quanto erramos. A cama doei para um asilo sem olhar pra trás e lembrar do que ali inventamos. Aquele cinzeiro de cobre foi de brinde com os cristais e as plantas que não regamos. Coube tudo num caminhão de mudança... até a dor que não soubemos curar mas que um dia vamos. "
(M.M)
(...)
Quero ainda lançar para longe de mim as palavras não ditas, nem que para tanto eu me lance junto e, que eu reapareça, reacenda, recupere, resgate, renove... recomece...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Déjà vu




Hoje encontrei tuas pistas... deixaste tudo por aqui... desalinhos, aromas, vícios... Alguns restos de palavras, migalhas de carinho, suor no travesseiro. As indiferenças, as decisões de-uma-vez-por-todas, as inconstâncias, pedaços de ti (...) Hoje esse apartamento repleto de rastros que nem cheiro de perfume raro, distante, coisa do acaso, consegue ofuscar.

Hoje também a percepção das noites intermináveis, lancinantes, a literatura madastra, palavras utópicas, sobretudo a não-palavra, o fel do não-dito, do porvir. Ah.. o vir a ser... o que faço com isso?

Ainda assim, nada tens a buscar. Tuas pistas não são tuas. Deixe-as comigo para que eu possa reuni-las, refazê-las e transformá-las na maior e mais duradoura insignificância.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A PONTUAÇÃO AMOROSA...


"Sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final.
Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar...”
Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente, SANGUE, SANGUE, SANGUE!!!
Sem reticências...
Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido a prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.
O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!
O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no cigarro sem filtro da covardia e do desamor.
Mulher se acaba, mas diz na lata, sem mané-metáfora.
Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.
O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.
Nem aqui nem Suécia.
Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem pelo menos uma discussão calorosa.
Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.
O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.
O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.
O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.
E vamos ficando por aqui, pois já derrapei na curva da auto-ajuda como uma Kombi velha na Serra do Mar... e já já descambarei, eu me conheço, para o mundo picareta de Paulo Coelho. Vade retro."

Xico Sá

RELATO DE UM HOMEM


"Tudo bem... queremos meninas legais, sexy, saradas, bonitas, inteligentes e boazinhas... Muito FÁCIL falar, pois quando aparece uma assim, de bandeja, a primeira coisa que a gente pensa é: Oba, me dei bem! Ficamos com elas uma vez, duas. Começamos a pensar que essa é a mulher que as nossas mães gostariam de ter como noras. Se sair um relacionamento, vai ser uma relação estável. Você vai buscá-la na faculdade, vocês vão ao cinema, num barzinho, vai ter sexo toda semana...Tudo básico, até virar uma rotina sem graça...Você vai olhar os caras bem vestidos e bem humorados indo pra noite arrasar com a mulherada e vai morrer de inveja. Vai sentir falta de dar aquelas cantadas infalíveis na noite, falta de dar umas olhadas pra uma gata, ou de dar aquela dançadinha mais provocativa na pista...

Você pensa: acho que não estou pronto pra isto, pra me enclausurar pro resto da vida nesse relacionamento. E a boa menina se transforma numa MALA, e aos poucos vai surgindo um nojo dela, uma aversão. Quando você vê o nome dela no celular não dá vontade de atender... JÁ ERA! Daí aquela promessa de vida estável vai por água abaixo, se a menina não se dá conta, a gente começa a ser muito grosso. E a pobre da menina pensa: o que eu fiz?? Coitada, ela não fez nada. A culpa é sua mesmo...

Aí, a gente volta pra nossa vidinha, que a gente odiava até semanas atrás. A gente não vê a hora de sair e arrasar na noite... ou pegar aquela mulher gostosona que sempre quisemos.GRANDE DESILUSÂO!Você chega em casa depois da balada, sozinho e fica tentando descobrir porque você não está satisfeito. De repente foi porque a menina da night, a linda, gostosa, misteriosa, ficou contigo, mas nem sequer pediu o número do teu telefone. FRUSTAÇÃO.

Daí, por mais que não queira, você pensa na sua menina boazinha que você deixou pra trás... ela podia ter seus defeitos mas era uma menina legal... que ficaria ao seu lado te dando valor...Enquanto isso a boa menina, chateda, lesada, custa a entender o que ela fez pra ter te afastado dela... Daí essa dúvida vira ANGÚSTIA, que vira raiva. Daí a menina manda tudo pra PU_ _ QUE PARIU !!! Não quer mais saber de nada, só de sair, zuar e beijar outros caras! Resolve não se envolver mais pra não sair lesada ou chateada...

Muito bem, acabamos de criar uma MONSTRA...O tempo passa e a gente continua na mesma. Volta a reclamar da vida e das mulheres. Elas só querem as coisas com homens cachorros e não estão nem ai pra nós... ou será que nós é que fomos os cachorros??Elas estão assim por culpa nossa. A mulher da night de hoje era a boa menina de outro homem ontem, e assim sucessivamente... Provavelmente, essa nossa ex-boa menina deve estar enlouquecendo a cabeça de outro homem por aí...

E eu a perdi para sempre, ela virou uma mulher enlouquecedora e a encontrei na balada e ela? Nem olhou pra mim (mas estava mais linda do que nunca)!!!"

Fonte: http://apenas30anos.blogspot.com/