segunda-feira, 28 de abril de 2008

Abril

Sigo nestes dias cinzentos com uma leve felicidade taquicárdica de sentir o ar gelado doendo as narinas, trincando os dedos. Faço diariamente o mesmo caminho, duas quadras até o ponto de ônibus, numa atenção distraída pelas pequenas coisas, as pequenas coincidências, as milhares de referências que venho acumulando nestes 29 anos de vida.

A verdade é que essa é a única alegria que tenho tido nestas últimas semanas. Tenho trabalhado tanto, tanto - quase 15 horas por dia- iluminada pelos olhinhos dos meus alunos, que brilham ávidos por ouvir o que nós professores temos a dizer. Nunca senti minhas mãos tão inábeis ao lidar com tantas vidas muitas vezes maiores que a minha. Tento me fazer de forte e simular uma segurança além do que já tenho ao ouvi-los discorrer sobre seus cotidiano. Tão perdidos, às vezes, desorientados, carentes. E como precisam de nós!!
Mas o fato é que tenho gostado até mais do que eu esperaria desta rotina opressora, quase workaholic: a ponto de sempre levantar no outro dia sempre com um sorriso vago e fôlego renovado para outro dia difícil.

Estou tão imersa nesta rotina que, quando à noite apóio a cabeça na vidraça do ônibus de volta, não penso em nada além de vagos tecnicismos docentes, as obrigações do dia seguinte.

Agora me veio à lembrança do trecho (o autor se perdeu no cansaço)
"Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você" e gostaria que isto estivesse acontecendo. Não acontece. Não sinto saudades, não sinto faltas, não faço planos, não telefono ou destilo esperanças. Para quem sempre foi movido de paixões em paixões, acho que nunca tive um mês tão árido quanto este abril que principia em terminar.

Depois de perceber como a vida é frágil e toda essa nossa impotência frente aos desequilíbrios, acho que nunca mais serei a mesma.