segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sua estupidez nao lhe deixa ver....

Meus amigos de quando em vez falam dos meus flagelos: ter certa inteligencia, dicernimento e criticidade, ao cabo, deixa-me à margem de coisas simples e práticas. (leia-se: felizes)
O quê, no fundo, querem eles dizer com isso? Que o mundo é dos estúpidos? ou melhor, das estúpidas?

Por certo morrerei sem conseguir entender o fascínio que as pessoas, sobretudo os homens, têm pelo simplório e diminuto. Antropológico? talvez - respondo- já que, assim, deixam aflorar o primitivismo de outrora. Não quero aqui dizer (embora já o tenha feito), que os homens não sabem lidar com mulheres que "valham a pena" (aspas para garantir a relatividade da expressão), mas é que as coincidências são cada vez mais frequentes (reticências).

Caso meus amigos tenham razão, devo ter uma triste sentença, pois nunca consegui (talvez nao tenha tentado) ser personagem do Folhetim, de Gal Gosta na patética subserviência "Se acaso me quiseres/ sou dessas mulheres que só dizem sim./Por uma noite à toa, uma noitada boa/ um cinema, um botequim.."
Bem, deve ser pq sou feita de "Nãos". E também de "Sins", mas só dos que me convêm. Eu sou noites produtivas e divertidas, pois não me relaciono bem com certas locuções adverbiais. Sou cinema, mas só em boa companhia, com preferência pelas que saibam comentar a essência do assistido e que, assim como eu, nao queira abrir os enlatados americanos surreais e desnecessários. Sou ainda a boa musica, condição sine qua non da minha permanência no botequim.

Complicada? Talvez seja mesmo, mas onde está escrito que devemos estar no patamar compreensível aos olhos dos outros? Quem sancionou a idéia de que refletir, criticar e questionar são sinônimos de ceticismo, mau-humor, frieza e frigidez? Bah! O que percebo, isso sim, é a eterna eleição de motivos para a perpetuação da mediocridade, a tentativa de convencer a si mesmo que a vida é mais leve diante da estupidez e do trivial. Nesse caso desejo a dureza e o peso das coisas. Ponto!
Machado de Assis (viva o centenário!) disse em um dos seus (irônicos) livros que só existem 3 tipos de pessoas: os espertos (e avisados), os tolos (e desavisados) e os acham que estão no primeiro grupo. Talvez eu faça parte deste último, mas prefiro não afirmar para não promover a falsa modéstia.

Lembrei agora de esotérico
"Até que nem tanto esotérico assim. Se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais..."

Mas, segundo o escritor e músico Tony Bellotto, eu sou uma "mulher normal." (dessa vez as aspas é só um grifo mesmo)
(sim, o marido da Malu Mader e que ninguém me venha questionar a eficiênca de seus textos, não tenho opinião formada sobre isso, ora, ora. E, sim, eu tb posso fazer citações idiotas, pelo menos mostro os créditos)

"Você é uma mulher normal. Está indignada com a liberação concedida pelo STF aos candidatos com fichas sujas, mas está ainda mais irritada com o preço que estão cobrando pelo iogurte light. Está empenhadíssima em comparecer à reunião na casa daquela amiga que convidou uma candidata à vereadora para falar sobre suas propostas de campanha, mas está ainda mais preocupada com o horário de fechamento do salão de beleza em que marcou uma escova progressiva às 18:30hs.

Você é uma mulher normal, e por isso não vai perder por nada a palestra daquele historiador sul-africano que você admira desde os tempos de faculdade, mas está tensa com a possibilidade de se atrasar para o jantar, pois prometeu ao seu namorado que vai preparar o frango ao curry que ele tanto ama. E ainda tem que comprar o vinho no caminho. E checar na internet se a quantidade de curry é a mesma que você tem em mente.

Você é uma mulher normal, e isso te ajuda a entender porque parou naquela loja de roupas para bebês na volta do trabalho. E porque, apesar de você não ter um filho – você sequer é casada -, a parada na loja de roupas para bebês fez com que você perdesse a palestra do historiador sul-africano que você admira desde os tempos de faculdade e atrasasse a preparação do frango ao curry que seu namorado tanto ama.

E que, apesar de tudo isso, você ficou profundamente tocada quando pegou uma daquelas roupinhas – a menor delas, parecia a roupa de uma boneca – e parou em frente ao espelho e viu dentro daquela roupa vazia o seu bebê. Que nem existe ainda, e sequer está nos planos do seu namorado, que após comer o frango ao curry, que ele tanto ama vai querer fazer sexo com você e com certeza vai perguntar, logo depois que vocês transarem: "Tomou a pílula, amorzinho?".."