quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Desencontrários

Tentando fazer referência à madrugada belicosa... lutei com palavras! Perdi.
Drummond registra que "Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã". E eu rompi a madrugada "correndo com a palavra na mão" atropelada e equivocada. Lamentei! Uma luta vã, deveras. As palavras, intempestivas, se mostraram indiferentes aos meus apelos. Saltaram, simplesmente. Eu, como Leminski, me senti impotente diante delas:

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Na ciranda confusa de palavras e sentimentos devo dizer que sim... isso é, verdadeiramente, um pedido de desculpas.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sobre fazer 31 anos

Deus tem me ensinado que não vale a pena perder a grande oportunidade de agrader pelo único e verdadeiro tesouro que ele nos concede: A VIDA.
Fazer 31 anos não é tão emblemático quanto fazer 30, mas a sequência dos aniversários anteriores me permite dizer que passei pelo melhor dos útlimos anos. O acúmulo de vitórias profissionais e pessoais embalam essa data e me desperta vontade de partilhar com meus seguidores. Comemorei liberdades, perdões, amizades, meu reecontro com Deus. Aos 31 anos posso me orgulhar do caminho que venho trilhando, da pessoa que sou, da família (Buscapé) que possuo, dos amigos que fiz e das histórias que vivi. Então, no último dia 10, reuni um grande grupo de pessoas que considero importantes e celebrei tudo de precioso que meu Deus me tem permitido experimentar. Senti, naturalmente, a ausência de algumas pessoas que o tempo levou de mim e de outras que por um motivo ou outro não puderam aparecer. Contudo, estavam comigo como todos os outros.
Não trabalhei direito por dois dias em revezamento de festas pelas salas de aula por onde passei: o carinho dos meus alunos é compensador e dá sentido a quase tudo no trabalho que faço.
Aniversário em tempos de orkut e de outras mídias eletrônicas facilita o encontro de amigos e parentes distantes e muda a forma de convite: econômica, rápida e eficiente. Pessoas dos mais diversos departamentos da minha vida, alguns que conheço há quase 15 anos, outros conheci ali. Completamente perdida tentando dar atenção a todos sem, obviamente, conseguir. Tivemos uma festa alegre, em suma. E posso dizer com certeza o quanto sou feliz e realizada. E que absolutamente tudo tem valido a pena, sobretudo o que nos últimos anos julguei (estupidamente) nao valer.
No mais... deixo Affonso Romano de Sant'Anna discorrer sobre a doce e sagrada liberdade que existe nas mulheres de 30...

"Fazer 30 anos é mais que um rito de passagem, é um rito de iniciação, um ato realmente inaugural. Talvez haja quem faça 30 anos aos 25, outros aos 45, e alguns, nunca. Sei que tem gente que não fará jamais 30 anos. Não há como obrigá-los. Não sabem o que perdem os que não querem celebrar os 30 anos. Fazer 30 anos é coisa fina, é começar a provar do néctar dos deuses e descobrir que sabor tem a eternidade. O paladar, o tato, o olfato, a visão e todos os sentidos estão começando a tirar prazeres indizíveis das coisas. Fazer 30 anos, bem poderia dizer Clarice Lispector, é cair em área sagrada.
(...)
Quando alguém faz 30 anos, não creiam que seja uma coisa fácil. Não é simplesmente, como num jogo de amarelinha, pular da casa dos 29 para a dos 30 saltitantemente. Fazer 30 anos é cair numa epifania. Fazer 30 anos é como ir à Europa pela primeira vez. Fazer 30 anos é como o mineiro vê pela primeira vez o mar....
(...)
Na verdade, fazer 30 anos não é para qualquer um. Fazer 30 anos é, de repente, descobrir-se no tempo. Antes, vive-se no espaço. Viver no espaço é mais fácil e deslizante. É mais corporal e objetivo. Pode-se patinar e esquiar amplamente.
Aos 30 já se aprendeu os limites da ilha, já se sabe de onde sopram os tufões e, como o náufrago que se salva, é hora de se autocartografar. Já se sabe que um tempo em nós destila, que no tempo nos deslocamos, que no tempo a gente se dilui e se dilema. Fazer 30 anos é como uma pedra que já não precisa exibir preciosidade, porque já não cabe em preços. É como a ave que canta, não para se denunciar, senão para amanhecer.

Fazer 30 anos é passar da reta à curva. Fazer 30 anos é passar da quantidade à qualidade. Fazer 30 anos é paSobressar do espaço ao tempo. É quando se operam maravilhas como a um cego em Jericó.

Fazer 30 anos é mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. Chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar."





sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Desafinados

"Escrever não é perturbador. É tão bom que dá medo. E o que é bom nos ampara e nos consola." Adélia Prado tem razão a esse respeito. Contudo, nesse mundo das palavras, perturbadora é a confusão terminológica que advém de sentimentos que se fundem e cuja legitimidade não pode ser questionada: amor e amizade.
Frequentamos pessoas que nos agradam, é fato, mas nos tornamos amigos dos que se afinam conosco. Porém, quando desafinamos... Aí vem João Gilberto: Isso em mim provoca imensa dor... Só privilegiados tem ouvido igual ao seu. Eu possuo apenas o que Deus me deu.
Nem sei se preciso dizer aqui que desafinar é sinônimo de discordar. Mas isso é amizade, isso é muito natural. O que muitos não sabem nem sequer pressentem é que os desafinados também tem boa intenção... Somos quem podemos ser (agora Engenheiros).
Finalmente, manter por perto o Riobaldo é via certa para tentar aceitar e entender quando as pessoas desafinam. E enfim, (maldita?) a literatura.

“O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão.” (ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 21.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Olá, amigos e seguidores...(oh.. qto tempo, sim!)
Em férias e retomando minha experiência antropológica de categorizar os tipos humanos (claro que me incluo, antes que digam), trago a vocês, que preferem minhas linhas às de Paulo Coelho (será que mereço??), um dos melhores pontos de observação de tipos comuns ao mundo narcisista (perde apenas para o carnaval): as academias. Se voltei? Claro que sim, porém entre uma contagem e outra de séries, abdominais e flexões, me deparo com tipos que encontramos fácil, fácil em qualquer ambiente desse (nada almejado-rs) mundo fitness. "Prestenção":

1. A patricinha fitness -Em cada academia cruzamos pelo menos com uma: garota rica e bem nascida, com genes que contibuem sobremaneira para sua ótima forma física e que frequenta o lugarzinho (que tem cada vez menos pessoas, digamos, com sobrepeso) só pra manter o status. Afinal, patricinha da gema jamais poderá deixar de frenquentar a academia. É exigência do grupo ou tem sua carteirinha apreendida. Deve ir nem que seja só pra fazer figuração. Chega sempre com roupas de ginásticas que lembram as paquitas - nova geração, estalando de novas e combinando com o cadarço do tênis e falando ao celular (lógico, pois é chique e tem uma atribulada agenda que a recorda das sessões diárias de drenagem linfática, banhos de lama e um botox de vez em quando, além de peeling, que tá na moda), cabelo impecável numa escova de chocolate suíço com avelãs descascadas por virgens camponesas, desfilando para lá e para cá, saudando com aquele sorriso amarelo e cara de nojo algum plebeu com quem ela decidiu falar. Prender o cabelo nem pensar, porque marca e isso é coisa de classe média. Dá uma puxadinha básica nos ferros só para cumprir o ritual, cuidando para não suar, pois suor é coisa de proletário. No fim das séries (ãnh) ela sai de lá, linda e loira como entrou, sem uma gota de suor e um fio de cabelo fora do lugar.

2. O bombado narcisista - Talvez seja o mais comum. Aquele que a gente olha e tem vontade de perguntar "Quer que eu te deixe a sós com o espelho?" Sim, pois olha a si mesmo com tanta admiração, medindo os ganhos milimétricos de músculos de penúltima série de exercícios para a última, que beira o assédio sexual. Fica parado frente ao espelho, olha-se inteiro e confere o abdominal sarado, dobra o tronco de um lado pro outro para forçar o tanquinho e contrai os braços para o tríceps saltar. Hoje, errei minha contagem de "gluteo coice" pra tentar ouvir nitidamente se ele dizia a si mesmo: "Oi, vc vem sempre aqui?"

3. O lutador de espelhos -Esse é o mais cômico. É aquele cara que, mesmo sem nunca ter feito uma aula de boxe na vida (e algo me diz que é o caso da maioria), adora ficar parado na frente do espelho entre uma série e outra dando socos no ar, ganchos de direita, ganchos de esquerda, cruzados e et cetera, no melhor estilo Rocky Balboa. Eu fico olhando e tentando adivinhar o tipo de droga que a mãe usou quando estava grávida.

4. O instrutor tarado - Não é regra, mas existe... Solícito, te carrega os pesos e alonga vc no chão pra deixar o cotolevo escorregar na... enfim, pergunta se dói quando toca na sua perna para "ajudar" a levantar o peso e a-do-ra e te ajudar nos exercícios de bumbum. Fica beeeem atras pra não deixar sua perninha desviar do lugarizinho que faz a paixao nacional crescer um pouco.

5. O scanner humano - Não é muito comum, infelizmente, mas serve pra nos alertar que em alguns lugares nao devemos passar mais que uma hora, pela preservação da nossa dignidade mental...rs. É o tipo que deixa de perder peso para perder tempo analisando categorias que nem merecem tanta atenção assim. Porém, alguma coisa tem de se fazer num lugar como esse, tão repleto das diversas facetas que é capaz de ter o bicho-homem.


P.S. Eu sou o tipo 5.. só pra constar. Vai que tem algum leitor desavisado, aqui...!
Até o próximo devaneio

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Penso, blogo, existo

Eis-me aqui em mais uma noite insone. Trabalhando à exaustão, maracu(g)inas à parte... parando para narrar um fato inusitado: Trata-se de um e-mail que recebi de certa leitora que não está nos meus registros de contato e, nesse caso, presumo que acompanhe esses delírios pela página oficial.

Nas densas linhas em html vi a moça em questão relatar o fim do seu amor, bem como da dor que estava sentindo (logo próximo ao dia dos namorados- hum). Bom, o fato é que, veemente, solicita que eu escreva algo que a conforte. Que a partir de minhas palavras, decifre seus sentimentos, como e pq se sente assim... Talvez, por defesa em causa própria eu até tenha o que dizer (e quem nesse mundo não tem?), mas não é isso que interessa hoje..

Esse pedido é intrigante, mas é tambem engraçado simplesmente porque não sou escritora, nem pretendo, mas de alguma forma estou amarrada a isto aqui. Quem sabe não é essa a razão pela qual vivo justificando minhas ausências.

Esse diário virtual começou há uns dois anos, salvo engano, e nasceu de uma necessidade básica e imediata de lançar como dardo algumas palavras, explicações e pensamentos infundados. Contudo, percebi, ao longo do tempo, como eram indignas de minha presença e mais ainda de minhas palavras, as pessoas que até então eram meu alvo. Assim, decidi dizer, apenas, pois escrever ajuda a organizar as idéias, a entender algumas coisas. Além do que, nos liberta, nos alivia é como um desabafo que se dilui sob o manto das palavras, sejam elas coerentes ou não.

Não importa quem vai ler ou se vão entender. Ler confere menor responsabilidade e é mais confortável, é bem verdade. Mas escrever, diria Adélia Prado, “Escrever não é perturbador. É tão bom que dá medo. E o que é bom nos ampara e consola." Porém, nada disso faz de mim uma escritora e muitos dos textos que publico sequer são meus ( mas dou os devidos créditos). Apesar disso, cativei, de alguma forma, algumas pessoas. Vai ver porque falo de coisas que são universais, embora nem sempre compreendidas.

A internet, é verdade, toma muito do meu tempo, tanto quanto meu trabalho e meus livros. Por essas e por outras ando excluindo algumas ferramentas que considero inúteis, repetitivas e, sobretudo, sem conteúdo como o twitter, mais recentemente: outra ferramenta em que se vende a falsa ilusão de um cotidiano perfeito, da felicidade vendida em fórmulas ou a família do comercial de margarina. Enfim, necessidade de viver de aparências, receio de dizer "tem uma nuvem negra aqui também", porque todos temos.
Mantenho esse blog por algumas circunstâncias, uma delas é a possibilidade de manter o pé na realidade.
A leitora em questão, talvez pela intensidade do que sente, esqueceu o protocolo do sorriso amarelo e expos sua nuvem, seu dia nublado em minha caixa de e-mail e são pessoas assim que me fazem ficar por aqui, nesse blog... Não porque exijam de mim frequência em palavras, mas porque como eu, gostam de escancarar o que sentem... E querem entender o que sentem e também querem resolver o que sentem. E não há problema nisso! Problema, isso sim, são as compensações. A dor do amor quase nunca se satisfaz com compensações, só camuflam. É preciso sentir essa dor, viver esse luto... Não se pode saber o que ronda a alma do outro.

Escrever como me sinto é tudo que faço aqui. Nunca soube ao certo as pessoas que recebem meus textos, pois envio para todos que cá estão no thunder, para outros que discutem o que foi escrito. Sei que são muitos, mais ainda os anônimos do diário, mesmo assim, não sou escritora, nem consigo resolver problemas de ninguém com minhas palavras. Quizá nem os meus próprios!

Sou apenas um trampolim de sentimentos, que fica a 16º no quarto, com uma tela de 8,9" e conexão que testa a capacidade cardíaca, embora eu viva tentando deixar de ser tão superlativa para assumir uma postura mais blasé diante da vida. Isto porque (IN) felizmente nasci para racionalizar e fracionar as emoções e quem sabe eu até goste desse baticum eterno no meu coração. Eu nao tenho opçao, foi a intensidade que me escolheu. Uma alma rebelde a contenções mora em mim e não tenho poder algum sobre ela...

Penso, blogo, existo. Todavia, meu amigos, quero estar livre para ir embora, quando desejar ou quando nada mais tiver a dizer!

domingo, 31 de maio de 2009

Interrompendo as buscas

A crônica de hoje é providencial e corresponde à noite que tive... Não, não vem ao caso os episódios.
O filme abordado abaixo é, sem sombra de dúvidas, o meu preferido nesse universo aqui tão discutido, por ser honesto, real e nao apelar para a banalidade...

Quero aproveitar e dedicar esse texto para meu amigo Aquiles (tão especial quanto o guerreiro de Tróia), que jamais entendeu minha reflexão superlativa acerca desse filme. Mas é por isso, Quilo... só por isso...
Cheiro no olho pra ele... e um abraço para todos.
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ASSISTINDO AO ÓTIMO "CLOSER - Perto demais", me veio à lembrança um poema chamado "Salvação", de Nei Duclós, que tem um verso bonito que diz: "Nenhuma pessoa é lugar de repouso". Volta e meia este verso me persegue, e ele caiu como uma luva para a história que eu acompanhava dentro do cinema, em que quatro pessoas relacionam-se entre si e nunca se dão por satisfeitas, seguindo sempre em busca de algo que não sabem exatamente o que é.
(...)
Apesar dos diálogos divertidos, é um filme triste. Seco. Uma mirada microscópica sobre o que o terceiro milênio tem a nos oferecer: um amplo leque de opções sexuais e descompromisso total com a eternidade - nada foi feito pra durar. Quem não estiver feliz, é só fazer a mala e bater a porta. Relações mais honestas, mais práticas e mais excitantes. Deveria parecer o paraíso, mas o fato é que saímos do cinema com um gosto amargo na boca.

Com o tempo, nos tornamos pessoas maduras, aprendemos a lidar com as nossas perdas e já não temos tantas ilusões. Sabemos que não iremos encontrar uma pessoa que, sozinha, conseguirá corresponder 100% a todas as nossas expectativas sexuais, afetivas e intelectuais. Os que não se conformam com isso adotam o rodízio e aproveitam a vida. Que bom, que maravilha, então deveriam sofrer menos, não? O problema é que ninguém é tão maduro a ponto de abrir mão do que lhe restou de inocência. Ainda dói trocar o romantismo pelo ceticismo
(...)
Mesmo a vida lá fora flertando descaradamente conosco, nos seduzindo com propostas tipo "leve dois, pague um", também nos parece tentadora a idéia de contrariar o verso de Duclós e encontrar alguém que acalme nossa histeria e nos faça interromper as buscas.

Não há nada de errado em curtir a mansidão de um relacionamento que já não é apaixonante, mas que oferece em troca a benção da intimidade e do silêncio compartilhado, sem ninguém mais precisar se preocupar em mentir ou dizer a verdade. (...) Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguém, sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso?

Longas relações conseguem atravessar a fronteira do estranhamento, um vira pátria do outro. Amizade com sexo também é um jeito legítimo de se relacionar, mesmo não sendo bem encarado pelos caçadores de emoções. Não é pela ansiedade que se mede a grandeza de um sentimento.

Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua, ou de frente pra chuva, havendo chuva, e juntos fazerem um brinde com as taças, contenham elas vinho ou café, a isso chama-se trégua. Uma relação calma entre duas pessoas que, sem se preocuparem em ser modernos ou eternos, fizeram um do outro seu lugar de repouso.

Preguiça de voltar à ativa? Muitas vezes, é. Mas também, vá saber, pode ser amor.

Martha Medeiros

domingo, 24 de maio de 2009

Obrigado por insistir


Até o mais seguro dos homens e a mais confiante das mulheres já passaram por um momento de hesitação, por dúvidas enormes e dúvidas mirins, que talvez nem merecessem ser chamadas de dúvidas, de tão pequenas. Vacilos, seria melhor dizer. Devo ir a este jantar, mesmo sabendo que a dona da casa não me conhece bem? Será que tiro o dinheiro do banco e invisto nesta loucura? Devo mandar um e-mail pedindo desculpas pela minha negligência? Nesta hora, precisamos de um empurrãozinho. E é aos empurradores que dedico esta crônica, a todos aqueles que testemunham os titubeios alheios e dizem: vá em frente!
“Obrigada por insistir para que eu pintasse, que eu escrevesse, que eu atuasse, obrigada por perceber em mim um talento que minha autocrítica jamais permitiria que se desenvolvesse.”
“Obrigada por insistir para que eu fosse visitar meu pai no hospital, eu não me perdoaria se não o tivesse visto e falado com ele uma última vez, eu não teria ido se continuasse sendo regida apenas pela minha teimosia e orgulho.”
“Obrigada por insistir para que eu conhecesse Veneza, do contrário eu ficaria para sempre fugindo de lugares turísticos e me considerando muito esperta, e com isso teria deixado de conhecer a cidade mais surreal e encantadora que meus olhos já viram.”
“Obrigada por insistir para que eu fizesse o exame, para que eu não fosse covarde diante das minhas fragilidades, só assim pude descobrir o que trago no corpo para tratá-lo a tempo. Não fosse por você, eu teria deixado este caroço crescer no meu pescoço e me engolir com medo e tudo.”

“Obrigada por insistir para eu voltar pra você, para eu deixar de ser adolescente e aceitar uma vida a dois, uma família, uma serenidade que eu não suspeitava. Eu não sabia que amava tanto você e que havia lhe dado boas pistas sobre isso, como é que você soube antes de mim?”
“Obrigada por insistir para que eu deixasse você, para que eu fosse seguir minha vida, obrigada pela sua confiança de que seríamos melhores amigos do que amantes, eu estava presa a uma condição social que eu pensava que me favorecia, mas nada me favorece mais do que esta liberdade para a qual você, que me conhece melhor do que eu mesma, apresentou-me como saída.”
“Obrigada por insistir para que eu não fosse àquela festa, eu não teria agüentado ver os dois juntos, eu não teria aturado, eu não evitaria outro escândalo, obrigada por ficar segurando minha mão e ter trancado minha porta.”
“Obrigada por insistir para eu cortar o cabelo, obrigada por insistir para eu dançar com você, obrigada por insistir para eu voltar a estudar, obrigada por insistir para eu não tirar o bebê, obrigada por insistir para eu fazer aquele teste, obrigada por insistir para eu me tratar.”
Em tempos em que quase ninguém se olha nos olhos, em que a maioria das pessoas pouco se interessa pelo que não lhe diz respeito, só mesmo agradecendo àqueles que percebem nossas descrenças, indecisões, suspeitas, tudo o que nos paralisa, e gastam um pouco da sua energia conosco, insistindo.

Martha Medeiros

terça-feira, 19 de maio de 2009

Saudades de mim...


Tive um doce reencontro com essa fotografia: Exatamente 28 anos atras... (Opa..!)
E desde que revi essa imagem, iniciou-se um processo de autoenamoramento, de nostalgia...
Cabelos arrumados em lateral, olhar suave. ombros caídos enfatizando um ar de desproteção. Em que momento da vida perdemos essa forma de olhar? Acho que Quintana explica melhor:

Mario Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram
Foram levando qualquer coisa minha...
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!



domingo, 10 de maio de 2009

O inominável


O que fazer quando somos intimados (cotidianamente!) a presenciar e deglutir secamente tudo aquilo que mais se ojerizamos. Tudo aquilo que, outrora, com toda civilizade, respeitamos e aceitamos. Você sai de cena e deixa o palco para novos protagonistas. Entende-se consigo mesmo e com o mundo. Respeita suas próprias dores, bem como a felicidade dos que pediram pra executar o próximo ato. Os anos passam e alguem decide que nada disso foi suficiente e as cortinas do passado se reabrem: é o próximo ato.
O que vem com ele? E não estivermos prontos? Que diálogos devem ser travados? O que, afinal, esperam de nós?
Até que a cortina outra vez se feche, os atos seguem-se um após o outro, no improviso, sem que consigamos mudar o roteiro ou sem poder cortas as cenas.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Nessa espera...

Olá seguidores,

Os últimos dias me renderiam best-sellers, caso resolvesse publicar...
São duas da manhã, tenho muito a declarar, mas amanhã meus alunos me esperam com sorriso e expectativa. Vai ficando para a próxima.
Especialmente para um seguidor do Canadá, que a brisa veio soprar aqui em blogueiros do Brasil, deixo Leoni (pecou em muitas canções, mas nessa ele acertou em cheio)...
Cativei, agora sou responsável.
Lung, esse vai pra vc... (e, involuntariamente, para mim...rs)

Nessa espera (Leoni)

Todo dia é só mais um dia
Se é longe de você
Todo tempo é só essa espera
Se eu não puder te ver

Mas se é pra te ver chorar
Nem pensar
Melhor deixar pra lá
Mas se é pra te ver chorar
Nem pensar
Melhor sentir saudades e deixar
O tempo consertar
O que der pra consertar
Do que ainda resta de nós.

O que há de ser será, qualquer dia
Mas o que haverá de ser
Nem a brisa vem soprar nessa espera
Tudo espera por você

Deixa a chuva desabar, nessa espera
Deixa a mágoa desmanchar, nessa espera
Deixa a água carregar, nessa espera
Toda a raiva que restar, nessa espera.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Woman....

Se eu pudesse dar nome a este dia, chamaria de turbulência. Dias como esses afloram meu lado mais obscuro,com o qual não sei lidar... Obscura para mim, hoje, é a saudade irritante que senti de um amigo que partiu há pouco mais de um ano. Eu não me despedi de vc, Demo e desconfio que essa dor me acompanhará até meu desfecho. É uma dívida impagável.
Ele me fazia ter paciência com os estúpidos... E me fazia sentir como um deles. Isso era mais intrigante. Dizia que eu era desastrada, e em seguida descrevia o quão charmosa eu era, exatamente por isso. Sabia o qto me incomoda parecer ridícula.
Adorávamos ouvir John Lennon e sempre que eu reclamava de falta de atenção e carinho.. ele cantava "Woman", rindo de mim. Saudades do teu sarcasmo, outrora ojerizado.

Woman please let me explain
I never meant to cause you sorrow or pain
So let me tell you again and again and again

I love you, yeah, yeah
Now and forever
I love you, yeah, yeah
Now and forever
I love you, yeah, yeah
Now and forever
I love you, yeah, yeah

Bom, enquanto escrevo este post, ouço a trilha e aos que me conhecem sabem que agora vou precisar parar de escrever para nao danificar o teclado com água e sal. ( e tb pq isso está completamente desconexo)
Para ouvir no youtube...
Quem, alem de ouvir, quiser cantar...
Para os desprovidos...

Demo, I love you now and forever

domingo, 8 de março de 2009

Coração em disritmia...


"O meu mundo não é como o dos outros.Quero demais, exijo demais.Há em mim uma sede de infinito,uma angústia constante que nem eu mesma compreendo,pois estou longe de ser uma pessimista.Sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada.Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... Sei lá de quê!"
Florbela Espanca)

Aviso da lua que menstrua

Bom,
Uma noite como há muito nao tinha ao lado de amigos tão queridos. Regado a papo, realidades e afins... (Jannie, Charles e a estonteante Luana.... Obrigada pela noite!) Lembramos de Elisa Lucinda que, como ninguém, sabe externar a alma feminina. Já nesse último momento de um dia tão especial.. (8 DE MARÇO)

Aproveito para parabenizar todas as mulheres por levar consigo a essência do mundo... E tb aos homens que tem a sorte e o prazer de ter ao seu lado, mães, irmães, namoradas, esposas, filhas, steps (?) e, com isso, poder perceber o quão perfeito pode ser o mundo ao lado delas...
*******

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
Às vezes parece erva, parece hera
Cuidado com essa gente que gera
Essa gente que se metamorfoseia
Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
E ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
Mas é outro lugar, aí é que está:
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
Que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
Transforma fato em elemento
A tudo refoga, ferve, frita
Ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
É que tô falando na "vera"
Conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
Ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
Já se alcança a "cidade secreta"
A atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
Cai na condição de ser displicente
Diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
Que a mulher extrai filosofando
Cozinhando, costurando e você chega com mão no bolso
Julgando a arte do almoço: eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
Então esquece de morder devagar
Esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
Chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
Vaca é sua mãe. de leite.
Vaca e galinha...
Ora, não ofende. enaltece, elogia:
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite
Pensando que está agredindo
Que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!





terça-feira, 3 de março de 2009

'AÍ DEU SODADE'







Tentando contextualizar esse refúgio com os sentimentos mais recentes, descobri que alguns crimes podem ser bem-vindos e nada nocivos e cujos assassinos sempre são Encontrei tb uma frase aparentemente patética e piegas (né Val?) que alguém atribuiu à Clarice Lispector (embora duvide veemente disso):
"Sa
udade é um pouco como a fome: só passa quando se come a presença."

Senhoras e senhores, com vocês a velha, boa (?) e conhecida saudade...Essa que, para mim, surgiu na maior festa profana da humanidade, há exatos 10 dias, e que não tem prazo para ser assassinada. Quem sabe ao final da quaresma.... E agora José? (Se você gritasse, se você gemesse, se você chorasse, se você morresse, mas você nao morre. Você é duro José!)

*********

Independente daquela discussão de ser uma palavra lusófona que a maioria dos tradutores sofre para reproduzir em suas línguas natais, a saudade é com certeza um sentimento que faz parte da humanidade. Os sentimentos são sempre muito democráticos ao escolher quem eles visitam. Amor, ódio, compaixão, raiva e a saudade entre tantos outros não querem saber se o indivíduo é brasileiro, chinês ou africano. Os sentimentos simplesmente vão aonde querem. E assim é com a saudade. Talvez ela não tenha uma palavra específica em todas as línguas do mundo, mas nem por isso ela deixa de ser um sentimento universal. E mesmo todo esse cosmopolismo não a livra do seu destino que é encontrar a morte.

A saudade nasce pra morrer. Na verdade ela nasce para ser assassinada. Eis ai um crime que ninguém faz questão de castigar. Ao contrário, o ato de matar a saudade, já é em si um prêmio ao criminoso. Digo, aos criminosos, visto que este é um crime que não se comete sozinho. Há no mínimo um cúmplice, isso quando não é um grupo inteiro a eliminar o sentimento em um grande linchamento cheio de beijos e abraços.

Mas aí eu me pergunto: o que acontece quando a saudade não morre? O que vem depois que ela percebe que o objetivo máximo da sua existência não será alcançado e que ela irá sobreviver muito mais tempo do que seria aceitável para alguém da sua espécie? No que se transforma esse sentimento? Em amargura, desespero, rancor? Quem sabe o que vira uma saudade que não se mata? Ficará ela vagando pelo nosso coração em busca de um lugar para repousar? Ou ela simplesmente se rebela e passa a açoitar o nosso peito com lembranças?
Talvez matar as saudades seja tanto um ato de misericórdia quanto de auto-preservação. Misericórdia por ajudar alguém a ter um descanso pacífico e auto-preservação por garantir que não seremos submetidos à escravidão sob o jugo de um sentimento frustrado.



Reflexões em L.S. Alves

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Crianças

Dias atrás me perguntaram, para uma matéria de revista, qual é o melhor aspecto da infância. Não entendo por que perguntam isso logo pra mim, já que nunca escondi que o melhor da infância, na minha opinião, é que ela termina logo! Please, não me recriminem, cada um com suas estranhezas... Eu tive uma infância muito tranqüila, sem nenhum trauma. Morei numa rua arborizada onde andava de bicicleta, brincava na rua, tinha amigos - e meus verões eram sensacionais, passava na praia, fazendo piquenique, brincando de policia-e-ladrão até tarde da noite, na maior segurança. Pai e mãe presentes, um irmão parceiro, colégio legal. Reclamar do quê?

*

Ainda assim, contava os minutos para crescer. Não via a menor graça em ser dependente de tudo e todos. Ter que obedecer. Seguir regras que não eram as minhas. Fui bem comportada, um anjo de menina, mas, por dentro, era uma subversiva em potencial. Eu tinha certeza de que o mundo adulto era infinitamente mais divertido e estimulante do que o infantil.

E não me enganei.

Conheço muita gente que morre de saudades da infância. Fico espantada. É como se dissessem que morrem de saudades de tirar um siso. Eu cumpri todo o protocolo infantil e virei a página: não voltaria nem meia-hora para a infância. Bicicleta, ando até hoje. Amigos, tenho cada vez mais. De imaginação e fantasia, sigo bem abastecida. Saudade de quê, então? De ir dormir na hora que me mandavam, mesmo estando sem sono? De ter que estudar matérias que eu já previa que não me serviriam pra nada? De ter que sair da sala bem na hora em que o papo estava ficando bom? De acreditar em Papai Noel?

Acreditar em Papai Noel até que era excitante. Às vezes faz falta a gente dar crédito ao absurdo.

De qualquer forma, eu não troco minha vida de adulta pela de criança, mesmo tendo que trabalhar e pagar contas, mesmo tendo consciência das misérias do mundo, mesmo enfrentando trânsito e um sem-número de responsabilidades, mesmo me sentindo perdida e desprotegida tantas vezes. É o preço. Em troca, sou dona do meu nariz, das minhas escolhas, dos meus erros e dos meus acertos. A independência é o melhor brinquedo que já ganhei na vida. Ganhei, não: conquistei!

Mas como esse domingo é o dia da criança, fica aqui o desejo de que a gente siga cultivando um pouco da pureza, inocência e confiança que a gente tinha aos 8 anos, coisas que acabam se perdendo com a brutalidade do cotidiano. Se eu não sinto saudade da infância, é porque essa inocência de certa forma ainda preservo, porque sem ela ficamos muito ásperos em relação a tudo. Então, sigamos inocentes, mas sem deixar de curtir a magnitude de ser gente grande.

(Martha Medeiros)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PENSAR É TRANSGREDIR

Queridos seguidores desse refúgio (literário, Let?),
Não sei exatamente o motivo, mas não estou à vontade para pensar e escrever depois dessa tortuosa volta em 3G à rede. Sobretudo "pensar". No últimos dias, isso tem sido meu flagelo. "Vc pensa e questiona muito, minha cara.", dizem.
Intrigante, porque me ensinaram (e hoje também ensino) o pensar, a clara criticidade. É contraditório. Não pensar é a lei! E se pensar, guarde para si.
E viva a estupidez!
Bom, já que não escrevo, alguém tem de fazê-lo:
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Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
(...)
Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: “Parar pra pensar, nem pensar!”
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar. Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.
(...)
Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.
(Lya Luft)