terça-feira, 3 de março de 2009

'AÍ DEU SODADE'







Tentando contextualizar esse refúgio com os sentimentos mais recentes, descobri que alguns crimes podem ser bem-vindos e nada nocivos e cujos assassinos sempre são Encontrei tb uma frase aparentemente patética e piegas (né Val?) que alguém atribuiu à Clarice Lispector (embora duvide veemente disso):
"Sa
udade é um pouco como a fome: só passa quando se come a presença."

Senhoras e senhores, com vocês a velha, boa (?) e conhecida saudade...Essa que, para mim, surgiu na maior festa profana da humanidade, há exatos 10 dias, e que não tem prazo para ser assassinada. Quem sabe ao final da quaresma.... E agora José? (Se você gritasse, se você gemesse, se você chorasse, se você morresse, mas você nao morre. Você é duro José!)

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Independente daquela discussão de ser uma palavra lusófona que a maioria dos tradutores sofre para reproduzir em suas línguas natais, a saudade é com certeza um sentimento que faz parte da humanidade. Os sentimentos são sempre muito democráticos ao escolher quem eles visitam. Amor, ódio, compaixão, raiva e a saudade entre tantos outros não querem saber se o indivíduo é brasileiro, chinês ou africano. Os sentimentos simplesmente vão aonde querem. E assim é com a saudade. Talvez ela não tenha uma palavra específica em todas as línguas do mundo, mas nem por isso ela deixa de ser um sentimento universal. E mesmo todo esse cosmopolismo não a livra do seu destino que é encontrar a morte.

A saudade nasce pra morrer. Na verdade ela nasce para ser assassinada. Eis ai um crime que ninguém faz questão de castigar. Ao contrário, o ato de matar a saudade, já é em si um prêmio ao criminoso. Digo, aos criminosos, visto que este é um crime que não se comete sozinho. Há no mínimo um cúmplice, isso quando não é um grupo inteiro a eliminar o sentimento em um grande linchamento cheio de beijos e abraços.

Mas aí eu me pergunto: o que acontece quando a saudade não morre? O que vem depois que ela percebe que o objetivo máximo da sua existência não será alcançado e que ela irá sobreviver muito mais tempo do que seria aceitável para alguém da sua espécie? No que se transforma esse sentimento? Em amargura, desespero, rancor? Quem sabe o que vira uma saudade que não se mata? Ficará ela vagando pelo nosso coração em busca de um lugar para repousar? Ou ela simplesmente se rebela e passa a açoitar o nosso peito com lembranças?
Talvez matar as saudades seja tanto um ato de misericórdia quanto de auto-preservação. Misericórdia por ajudar alguém a ter um descanso pacífico e auto-preservação por garantir que não seremos submetidos à escravidão sob o jugo de um sentimento frustrado.



Reflexões em L.S. Alves