sexta-feira, 23 de maio de 2008

Au revoir, Deminho...

(Ao meu canalha-amigo que se despediu desse mundo para assumir seu lugar ao lado dos excêntricos. Um homem de muitos sentimentos que me deu o (des)prazer de conhecer muitos deles.)

Essas despedidas não poderiam ter outro autor... Ninguém conseguiria sair tão subita e discretamente. Não te perdôo.
Fica a saudade, mas tb fica a decepção, fica a vontade e vai à interrogação, fica o tempo em que não éramos nada mais que contatos adicionados, o tempo em que fomos por muito tempo coadjuvantes na solidão do outro.
Custava ter ligado? Estavas magoado? Sem se despedir?

Falo tudo isso para as paredes do meu apartamento, refletida ao meio, olhando para o meu García Marquez, alfarrabio da década de 60, tua dedicatória...
As nossas apostas em "Cem anos de solidão"
Custava um e-mail? Estavas magoado? Sem se despedir?

Falo tudo isso em frente à tela fria e salgada, lamentando o adeus que não foi dado. Falo tudo isso porque sei que vc vai ler, vai entender, vai ironizar, vai crer em todos os verbos funcionais do diconário, mas o verbo que tu encaixas nem é verbo, é substantivo: saudade.
Demo, meu astro canalha, nem uma visita? estavas magoado? sem se despedir?

A conversa inteligente, nossos livros, nossos discos, o teu Mercado Negro... As nossas rabugices, nossas críticas, nossas implicâncias, nossa impaciência com os estúpidos, nossas risadas, nossas codigos, nossos olhares cúmplices diante da tolice do mundo...

Os sovenirs, o colírio, a incompetência digital, os sanduiches vagabundos, o café no banheiro, o eterno perfume, a Janis Joplin, a sua mosca, a minha covinha. As poesias, a literatura, a história, as guerras, os judeus, Luis Fernando Veríssimo, Egberto Gismonti. Tuas reclamações rabugentas diante do meu comportamento desastrado, minha irritação diante do teu ar de superioridade, teus espasmos de homem solitário, minha incompreensão... nossas brigas, nossas mágoas, nossos sorrisos, nossas distâncias, nossa solidariedade, nossa amizade!

Eu devia saber que nunca ias avisar. E claro que não estavas magoado, pois tivemos tempo de dizer um ao outro o quanto éramos essenciais, o quanto era bom segurarmos um na mão do outro, mesmo que soltássemos em seguida.
E não se despediu pq foi esta a forma que encontrou de permancer.

"Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)"

"Até a próxima vez"