"Corri coma palavra na mão pra te jogar.
Corri para quebrar tua cabeça com a palavra
Cheguei até a porta da tua alma,
e a passagem interrompida.
Deste ordem a tua alma pra ficar trancada,
ordenaste teu pensamento pra não mais pensar.
e ao amor deste ordem para odiar.
Continuei correndo com a palavra na mão
pra te acertar.
Continuei sofrendo com a palavra na mão
pra te jogar.
Fui até a porta da minha ilusão
pra te encontrar.
percorri minhas salas do sonho somente pra te ver,
com outra palavra na mão pra te tecer.
Continuei correndo com a palavra na mão
pra te acertar, continuei ocorrendo, correndo,
com a palavra na mão até cansar.
Voltei à sala do sonho, abri todas as portas
da ilusão, vi escorada a porta da paixão, sempre
trancado o portão do amor.
Voltei a correr, a correr e, súbita imagem:
eu vi de longe a tua imagem súbita.
Corri, corri, corri pra te olhar,
e, quando te olhei, então não mais te vi.
Levantei o braço pra jogar palavra,
e não havia mais palavra em minha mão.
Continuei com a palavra na mão
pra te acertar, continuei correndo com a palavra
na mão pra te jogar, continuei correndo, correndo,
com a palavra na mão até cansar...
Levanto o braço pra jogar palavra,
e não há mais palavra em minha mão.
Talvez encontre alguma pra te inventar."
(Almeida, Sonia. In: Penumbra)