sábado, 28 de junho de 2008

Pedra

"Corri coma palavra na mão pra te jogar.

Corri para quebrar tua cabeça com a palavra

Cheguei até a porta da tua alma,

e a passagem interrompida.

Deste ordem a tua alma pra ficar trancada,

ordenaste teu pensamento pra não mais pensar.

e ao amor deste ordem para odiar.

Continuei correndo com a palavra na mão

pra te acertar.

Continuei sofrendo com a palavra na mão

pra te jogar.

Fui até a porta da minha ilusão

pra te encontrar.

percorri minhas salas do sonho somente pra te ver,

com outra palavra na mão pra te tecer.

Continuei correndo com a palavra na mão

pra te acertar, continuei ocorrendo, correndo,

com a palavra na mão até cansar.

Voltei à sala do sonho, abri todas as portas

da ilusão, vi escorada a porta da paixão, sempre

trancado o portão do amor.

Voltei a correr, a correr e, súbita imagem:

eu vi de longe a tua imagem súbita.

Corri, corri, corri pra te olhar,

e, quando te olhei, então não mais te vi.

Levantei o braço pra jogar palavra,

e não havia mais palavra em minha mão.

Continuei com a palavra na mão

pra te acertar, continuei correndo com a palavra

na mão pra te jogar, continuei correndo, correndo,

com a palavra na mão até cansar...

Levanto o braço pra jogar palavra,

e não há mais palavra em minha mão.

Talvez encontre alguma pra te inventar."

(Almeida, Sonia. In: Penumbra)