domingo, 11 de maio de 2008

Domingo no Leo

Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?"
(Mário Quintana)

Era tarde de domingo, todos em volta de uma máquina de costura que se assemelha a uma mesa louvando a Baco. Boas companhias, cada uma com seu signficado pessoal: umas recentes, outras saudosas e outras cúmplices.Tarde até agradável, na média.

Já era final, só restavam brasas e as cinzas. Nem parecia que ali havia uma fogueira, dois metros de altura, tanto calor que mal se podia chegar perto. Mas já se ia a tarde e sobrara um calor convidativo, tão convidativo que sentamos cada um com seu copo, cada qual com suas lembranças. Começou com Cartola, aquela que Cazuza também cantou: ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida... Depois emendou o velho Vinícius, cantando os amores tristes e errados, as paixões redentoras e pungentes.

... e não sei se foi o dia das mães, o bom vinho que já ia subindo, a metáfora das brasas, meu estado de culpa crônica, a bossa nova, chico cantando "samba pra um grande amor", essa nostalgia pelo final iminente. E naquela tarde, todo esse estado não era pela minha insistência crônica pelos amores difíceis e inconclusos. Era por aquele momento fotográfico do "talvez seja a última vez que", ou talvez "apesar dos pesares, estamos aqui".

A metáfora da tarde pensei, era o fato de que estávamos todos ali, como de certa forma um dia fomos. Envoltos por aquelas antigüidades lúgubres e quase sem beleza - mas era só daquilo que precisávamos no momento. As músicas nos bastavam, mantiam-nos unidos. Comecei a relembrar as mesmas músicas em outros lugares, outras paragens, de como nem gostava de Bezerra da Silva num período tão remoto assim. De como todos ali participaram na minha formação como indivíduo adulto, apesar do passo principal desse processo fosse um rompimento e todas as mágoas recorrentes.

Quando se está no Léo o mais importante é cantar, é cantar juntos e cantar abraçados.
E que perdoar é uma das maiores dávidas que há no mundo.
E perdoei.