sábado, 31 de maio de 2008

NÓS (HOMENS)


A medida que envelheço e convivo com outras, valorizo mais ainda as mulheres que estão acima dos 30.
Elas não se importam com o que você pensa, mas se dispõem de coração se você tiver a intenção de conversar. Se ela não quer assistir ao jogo de futebol na tv, não fica à sua volta resmungando, vai fazer alguma coisa que queira fazer...
E geralmente é alguma coisa bem mais interessante.

Ela se conhece o suficiente para saber quem é, o que quer e quem quer. Elas não ficam com quem não confiam. Mulheres se tornam psicanalistas quando envelhecem.
Você nunca precisa confessar seus pecados... Elas sempre sabem...
Ficam lindas quando usam batom vermelho. O mesmo não acontece com mulheres mais jovens...

Mulheres mais velhas são diretas e honestas. Elas te dirão na cara se você for um idiota, caso esteja agindo como um!
Você nunca precisa se preocupar onde se encaixa na vida dela. Basta agir como homem e o resto deixe que ela faça...

Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 anos! Infelizmente isto não é recíproco, pois para cada mulher com mais de 30 anos, estonteante, bonita, bem apanhada e sexy, existe um careca, pançudo em bermudões amarelos bancando o
bobo para uma garota de 19 anos...
Senhoras, eu peço desculpas.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Au revoir, Deminho...

(Ao meu canalha-amigo que se despediu desse mundo para assumir seu lugar ao lado dos excêntricos. Um homem de muitos sentimentos que me deu o (des)prazer de conhecer muitos deles.)

Essas despedidas não poderiam ter outro autor... Ninguém conseguiria sair tão subita e discretamente. Não te perdôo.
Fica a saudade, mas tb fica a decepção, fica a vontade e vai à interrogação, fica o tempo em que não éramos nada mais que contatos adicionados, o tempo em que fomos por muito tempo coadjuvantes na solidão do outro.
Custava ter ligado? Estavas magoado? Sem se despedir?

Falo tudo isso para as paredes do meu apartamento, refletida ao meio, olhando para o meu García Marquez, alfarrabio da década de 60, tua dedicatória...
As nossas apostas em "Cem anos de solidão"
Custava um e-mail? Estavas magoado? Sem se despedir?

Falo tudo isso em frente à tela fria e salgada, lamentando o adeus que não foi dado. Falo tudo isso porque sei que vc vai ler, vai entender, vai ironizar, vai crer em todos os verbos funcionais do diconário, mas o verbo que tu encaixas nem é verbo, é substantivo: saudade.
Demo, meu astro canalha, nem uma visita? estavas magoado? sem se despedir?

A conversa inteligente, nossos livros, nossos discos, o teu Mercado Negro... As nossas rabugices, nossas críticas, nossas implicâncias, nossa impaciência com os estúpidos, nossas risadas, nossas codigos, nossos olhares cúmplices diante da tolice do mundo...

Os sovenirs, o colírio, a incompetência digital, os sanduiches vagabundos, o café no banheiro, o eterno perfume, a Janis Joplin, a sua mosca, a minha covinha. As poesias, a literatura, a história, as guerras, os judeus, Luis Fernando Veríssimo, Egberto Gismonti. Tuas reclamações rabugentas diante do meu comportamento desastrado, minha irritação diante do teu ar de superioridade, teus espasmos de homem solitário, minha incompreensão... nossas brigas, nossas mágoas, nossos sorrisos, nossas distâncias, nossa solidariedade, nossa amizade!

Eu devia saber que nunca ias avisar. E claro que não estavas magoado, pois tivemos tempo de dizer um ao outro o quanto éramos essenciais, o quanto era bom segurarmos um na mão do outro, mesmo que soltássemos em seguida.
E não se despediu pq foi esta a forma que encontrou de permancer.

"Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)"

"Até a próxima vez"

domingo, 18 de maio de 2008

I don't belong to you anymore

"Batidas na porta da frente.. é o tempo!"

Interessa-me abordar o tempo e seu poder devastador, encanta-me seu poder de levar consigo tudo o quanto precisamos que leve. Impressiono-me com sua capacidade de promover nosso resgate. É desejo do tempo que reencontremos nossa essência, a ponto de não nos permitir nostalgias já abandonadas; faz-nos zombar de nós mesmos, do que ousamos fazer.
É mérito dele - o tempo - o não sentimento, a não mais permissão, a não necessidade e, sendo assim, não sinto, não permito e não necessito. Um reencontro com meu passado sempre recorrente depois de seis meses de desencontros: velhas conversas, velhos signos, velhas questões que levanto sem poder colher a resposta imediatamente mas, numa pequena epifania, algumas certezas já aparecem, como minha reconciliação com este mundo e suas possibilidades.

Percebo tal resgate por já não sentir falta de como nunca encontravas algo pra ver na TV nem para ver em mim; não me aborrece o fato de nunca me escutares devido a atenção redobrada por qualquer outra bobagem e, no surto, passares a mãos pelos meus cabelos, como se desculpando da tremenda falta de tato.

Não me recordo da infinitas maneiras e encontravas para me tirar do sério, nem de como tua cabeça nunca encaixava nos meus ombros, dos planos para o futuro que nunca iam de encontro aos meus, de nossas prioridades absolutamente dissonantes, do mal-humor matinal, tampouco do fato de nunca teres dado bola as minhas dúvidas durante as madrugadas.

Não faço mais referência ao tempo que odiavas me ver discorrer sobre a importancia elementar das coisas as quais não conheces; da total ausencia de ligações para almoçar e de não conheceres o cheiro que exala em meus cabelos, das coisas banais que desconhecias de mim e de todo o resto.

Isso é real e tem nome: chama-se libertação..

"I don't belong to you anymore"

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Sossega, coração! Não desesperes!

de

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transform

domingo, 11 de maio de 2008

Domingo no Leo

Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?"
(Mário Quintana)

Era tarde de domingo, todos em volta de uma máquina de costura que se assemelha a uma mesa louvando a Baco. Boas companhias, cada uma com seu signficado pessoal: umas recentes, outras saudosas e outras cúmplices.Tarde até agradável, na média.

Já era final, só restavam brasas e as cinzas. Nem parecia que ali havia uma fogueira, dois metros de altura, tanto calor que mal se podia chegar perto. Mas já se ia a tarde e sobrara um calor convidativo, tão convidativo que sentamos cada um com seu copo, cada qual com suas lembranças. Começou com Cartola, aquela que Cazuza também cantou: ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida... Depois emendou o velho Vinícius, cantando os amores tristes e errados, as paixões redentoras e pungentes.

... e não sei se foi o dia das mães, o bom vinho que já ia subindo, a metáfora das brasas, meu estado de culpa crônica, a bossa nova, chico cantando "samba pra um grande amor", essa nostalgia pelo final iminente. E naquela tarde, todo esse estado não era pela minha insistência crônica pelos amores difíceis e inconclusos. Era por aquele momento fotográfico do "talvez seja a última vez que", ou talvez "apesar dos pesares, estamos aqui".

A metáfora da tarde pensei, era o fato de que estávamos todos ali, como de certa forma um dia fomos. Envoltos por aquelas antigüidades lúgubres e quase sem beleza - mas era só daquilo que precisávamos no momento. As músicas nos bastavam, mantiam-nos unidos. Comecei a relembrar as mesmas músicas em outros lugares, outras paragens, de como nem gostava de Bezerra da Silva num período tão remoto assim. De como todos ali participaram na minha formação como indivíduo adulto, apesar do passo principal desse processo fosse um rompimento e todas as mágoas recorrentes.

Quando se está no Léo o mais importante é cantar, é cantar juntos e cantar abraçados.
E que perdoar é uma das maiores dávidas que há no mundo.
E perdoei.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Acabou a tempestade...

Não, hoje não vim para escrever sobre dores, frio, insônia, nervosismo, lamentos ou fazer balanço do não-saber-quem-sou.
Como de costume, ponho músicas aleatórias todas as noites... me ajudam a pensar. E num repeat sem fim crio imagens que acompanham o fim dessa tempestade. É.. está estiando, o clico fechando, outro começando. Eu sei!
(...) e no player....

"Eu não quero mais correr
Vou cuidar do meu jardim
Trago flores pra você
Deixo o tempo lhe mostrar
Nossa historia é mesmo assim"

Parei de querer interferir, de artificializar a mudança...Tão dangerizada estava no roda-mundo que esqueci de perceber os progressos... Optei por remoer o não-dito. Que tola!
"Pára, meu coração, não penses!"
repeat

Atirei uma pedra na sua janela, uma que não fez o menor ruído, não quebrou, não rachou, não deu em nada....

As coisas sempre competem com nossas escolhas, as músicas, os livros, as pessoas...
e no player...

" E se virá
Será quando menos se esperar
Da onde ninguém imagina
para todo mal, há cura."

(...)
Hoje li um texto que dizia que aos 5 anos de idade o mundo é esmagadoramente mais forte do que a gente; aos 30 também, mas nesse caso "aprendemos umas manhas que, se não anulam a desproporção, ao menos disfarçam nossa pequenez". O conhecimento é, pois, uma benção e uma condenação: compreendermos a origem de nossos incômodos é sempre um exalar de possibilidades, inclusive negativas. E no player...

"É a verdade o que assombra
O descaso que condena,
A estupidez o que destrói"
...
Puxa.. se me lembrasse o autor, mas creio que ocupei a mente com o que importava do texto:

"Palavras são ferramentas que usamos para desmontar o mundo e remontá-lo dentro da nossa cabeça."

Do resto nao sei dizer.. no player agora "Metal contra as nuvens..." o mundo conspira também a favor. repeat, repeat...

"Eu vejo tudo que se foi

E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes,
O corpo quer, a alma entende."

Parece que o mar não está mais vazio... Desisto! essa música, essa letra, esse arranjo...
no player...

"Tudo passa, tudo passará...

E nossa estória não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar.

(Certa vez... numa alegria meio "Thelma e Louise" dentro do carro, minha amiga e eu nos olhávamos e entoávamos juntas, sorrindo e tentando arrancar uma da outra as certezas dessa letra...)


E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos."


A tempestade acabou e junto com ela um emaranhado de palavras confusas acima.... Não me importo, não se importe também... Ouça, apenas...

Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos."


terça-feira, 6 de maio de 2008

Pequenas Epifanias

Por andar tão distraída (novidade!), sem culpa e sem compromissos que não minha saúde (em vias de recuperação diga-se de passagem), expectativas basais e porque não dizer com péssimas intenções... não consegui externar nada por hoje. Pelo menos nada de realmente meu. Resolvi, então, chamar o jornalista-contista Caio Fernando de Abreu, rememorado(??) na minissérie "Queridos amigos" (que aliás não tive estrutura para acompanhar diariamente devido aos seus diálogos um tanto verdadeiros demais).
Ele, que tinha certeza que amar emburrece, encarava o tema como poucos, usando boa dose de realismo para descrever tais manifestações divinas. Ou melhor: pequenas epifanias, título de sua coletânea de crônicas, lançado em 1996, ano de seu falecimento. Também é o nome do texto abaixo, publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo, em 22 de abril de 1986:

(..)

Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus - enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal - não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me recoheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obssessivo do conto de Clarice Lispector - Tentação - na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível.”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa, ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou - descuidado, também - em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia a dia.

Era isso - aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando pra trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo.

Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.